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BOLSONARISTAS USAM MORTE DE SOLDADO PARA ATACAR MEDIDAS RESTRITIVAS E INCITAR MOTIM DA PM

Redação - 30/03/2021 09:00 - Atualizado 30/03/2021

Em movimento coordenado, políticos bolsonaristas tentam usar politicamente a morte do soldado da PM Wesley Soares para incitar um motim contra o governador Rui Costa e atacar as medidas restritivas em vigor na atual fase da pandemia do novo coronavírus. Durante esta segunda-feira, 29, circularam nas redes sociais e aplicativos de mensagens vídeos e áudios tentando classificar o policial morto como um “herói” em estado de grande estresse por precisar garantir, a contragosto, o cumprimento de ordens do governo, como o fechamento do comércio.

No último domingo, 28, o soldado disparou vários tiros de fuzil para cima no Farol da Barra, alternando momentos de lucidez e raiva. Segundo o governo do Estado, o PM aparentava “um quadro de surto psicótico”. No início da noite, após horas de tentativa de negociação, Wesley atirou contra integrantes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Atingido, foi levado para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu.

Em um dos principais vídeos compartilhados entre grupos bolsonaristas, Wesley, caminhando no Farol da Barra, diz: “Eu não vou deixar, não vou permitir que viole a dignidade e honra do trabalhador”. Em outro momento, o soldado foi filmado afirmando: “Comunidade, venha testemunhar a honra ou a desonra de um policial militar do Estado da Bahia”. Não há provas ou indícios mais claros de que a ação do PM tenha sido motivada por alguma insatisfação contra as medidas restritivas.

O recado mais claro das pretensões dos bolsonaristas foi dado pelo vereador Alexandre Aleluia (DEM), que defendeu a elaboração de um manifesto endereçado ao presidente Jair Bolsonaro e ao Ministério da Justiça, em uma “reação contra ordens inconstitucionais e imorais”. “Não estou aqui apoiando greve, estou apenas analisando um futuro possível. Mas uma possível greve pode vir a acarretar até em uma intervenção federal, e uma intervenção federal certamente, com as ordens do nosso presidente, seria algo que pelo menos pacificaria quanto a essas ilegais e imorais medidas restritivas, que são contra quem quer trabalhar e empreender. Essa é uma hipótese. Não estou defendo nada”, afirmou Aleluia, em transmissão da rádio Brado.

Entrevistado durante ato no Farol da Barra em protesto pela morte do policial, o ex-vereador Cezar Leite (PRTB) defendeu que “o soldado pode não obedecer à ordem do seu comandante, sim”.” Dois mil vão ser presos? Dois mil vão ser presos. Mas está na hora de dar uma resposta ao governador Rui Costa”, declarou. O deputado estadual Capitão Alden (PSL) disse que formalizou um pedido de impeachment do governador. “Hoje Rui Costa tem sangue em suas mãos de um guerreiro que perdeu sua vida vítima da omissão do Governo do Estado! Chegou a hora de tirarmos esse tirano do poder!”, escreveu Alden, no Twitter. Sua colega de partido e na Assembleia, Talita Oliveira deu seguimento à mesma narrativa. “A dor nas palavras de um policial que se vê forçado a prender pais de família, trabalhadores e cidadãos de bem. Triste dia em nosso estado!”, publicou.

Em uma linha diferente da adotada pelos bolsonaristas, o deputado estadual Soldado Prisco (PSC) pediu “produção zero” dos policiais até a quarta-feira, 31, quando está prevista uma carreata, e não citou as medidas restritivas. Para o deputado, há três itens que a categoria deve reivindicar: a exoneração do comandante-geral da Polícia Militar Paulo Coutinho, uma investigação “independente” do episódio e a prisão de “quem mandou matar Wesley”. Nas últimas semanas, Prisco tem destacado o falecimento de policiais pela Covid-19 e criticado o governo por uma “política genocida”, que consiste, segundo ele, em “obrigar os PMs a realizar blitzes para cumprir meta”.

Ainda no Twitter, a deputada Bia Kicis (PSL), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, chegou a postar que o soldado foi morto “porque se recusou a aprender trabalhadores” e “disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia”. Mais tarde, acusada de insuflar um motim, apagou o tuíte. “Nesta madrugada fui informada de que o PM morto, em surto, havia atirado para o alto e foi baleado por colegas. As redes se comoveram e eu também. Hoje cedo removi o post para aguardarmos as investigações. Inclusive diante do reconhecimento da fundamental hierarquia militar”, escreveu.

Partidos de oposição, como PSOL e PSB, informaram que irão acionar a deputada no Conselho de Ética da Câmara. “Bia Kicis vai responder no Conselho de Ética por incitar motins policiais contra a ordem democrática. A deputada praticou crime contra a Constituição e assim como Daniel Silveira tem que ser acionada no STF”, defendeu o deputado Marcelo Freixo (PSOL). Filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), afirmou que, “aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição”. “Esse sistema ditatorial vai mudar. Protestos pipocam pelo mundo e a imprensa já não consegue abafar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário”, disse.

Já o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, anunciou que Wesley poderia ser incluído na lista de homenagens pelo órgão. “O nome do PM Wesley Góes poderá ser incluído na lista de Personalidades Negras da Fundação Palmares caso atenda aos critérios da portaria 189/2020. As palavras dele, antes de ser baleado, expressam a indignação dos trabalhadores brasileiros ante a truculência e o autoritarismo”, afirmou. Durante o dia, aliados do governador reagiram à movimentação dos adversários, apontando uma tentativa de “politização” do caso. “Não podemos neste momento politizar o episódio, mas fazer uma reflexão dos profissionais da Polícia Militar, que são cobrados a cada instante para cuidar da gente e às vezes passam por situações como passou aquele profissional, psicologicamente, extremamente abalado, e a Polícia Militar tem um procedimento sobre situações como essa”, afirmou o deputado Rosemberg Pinto (PT), líder do governo na Assembleia.

“De forma covarde e desrespeitosa, o gabinete do ódio tenta politizar a trágica morte do policial militar em Salvador. A categoria esperava de seus supostos representantes na Assembleia atos em solidariedade e apoio, mas o que se viu até aqui foram ações coordenadas nas redes sociais e discurso de ódio contra o Governo do Estado. Usam a morte para se promover e fazer politicagem”, declarou o deputado Robinson Almeida (PT). Mais tarde, o próprio Rui se manifestou, ao defender o trabalho dos policiais envolvidos na operação e se solidarizar com os familiares do soldado morto. “Quero lamentar profundamente o fato ocorrido neste domingo e ao mesmo tempo manifestar meus sentimentos à família do policial envolvido. Também quero estender minha solidariedade a todos os policiais que participaram da operação e colocaram suas vidas em risco”, declarou Rui, em vídeo publicado nas redes sociais.

Ao comentar o movimento coordenado entre bolsonaristas, o governador mais uma vez disse ser vítima do “ódio, da mentira e da calúnia”. “O final de semana foi de ataque a mim e a governadores e prefeitos do Brasil inteiro. Se alguém acha que vai nos intimidar distribuindo mentira, calúnia, difamação, está muito enganado”, afirmou. A reação também foi articulada nacionalmente. Em carta, Rui e mais 15 governadores manifestaram “indignação em face da crescente onda de agressões e difusão de fake news que visam a criar instabilidade institucional nos Estados e no País”. No documento, os gestores estaduais dizem que “alguns agentes políticos espalham mentiras sobre dinheiro jamais repassado aos estados, fomentam tentativas de cassação de mandatos, tentam manipular policiais contra a ordem democrática, entre outros atos absurdos”.

Foto: divulgação

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