Na indústria de processo contínuo em geral, e na química em particular, costuma-se definir economia de escala como aquela que se obtém ao se estabelecer no processo produtivo arranjo capaz de proporcionar menor custo unitário de fabricação. Diz-se que quanto maior a capacidade de produção de uma fábrica menores são seus custos industriais, o que lhe oferece maior poder competitivo nos mercados. Peter H. Spitz em seu livro “Petrochemicals – The Rise of an Industry” nos traz um bom modelo para ilustrar esse conceito. Em dois exemplos fictícios, mas bem referenciados, Spitz compara uma planta de pequeno porte (capacidade 45 mil t/a, investimento US$ 40 milhões) com outra maior (capacidade 272 mil t/a, investimento US$ 110 milhões). Os custos variáveis em centos do dólar são próximos um do outro (6,7 e 6,4, respectivamente), e os custos fixos distantes (8,2 e 4,0), resultando custos de produção anuais respectivos de 14,9 e 10,4, na mesma moeda. Isso tudo significa que para um aumento da capacidade de 504% proporciona um aumento de investimento de apenas 175% e uma redução dos custos de fabricação de 43,27%.
Contudo, a economia de escala não é o único fator importante para se conseguir a perpetuidade das manufaturas de processo contínuo. Existem outros fatores internos e externos que contribuem para a sobrevivência das empresas industriais, como, por exemplo, a economia de aglomeração, advinda da proximidade física das plantas e dos serviços compartilhados de suprimento de utilidades, manutenção, tratamento de efluentes, proteção ambiental e atualização tecnológica. O Polo Petroquímico de Camaçari cuidou de cada um desses aspectos, exceto da questão de escala, por terem dimensionado as unidades em função do mercado doméstico, quando deveriam ter adotado a dimensão internacional das plantas. Como se sabe, isso era quase impossível dado às barreiras de entrada oferecidas pelas multinacionais cedentes de tecnologia. A limitação dos recursos financeiros e a possibilidade de se fazer a suficiente proteção aduaneira, na época, viabilizaram a execução do planejado fisicamente.
De um modo geral tal economia sobrevém do planejamento do processo produtivo, seja de bens ou serviços, de modo a se obter a maximização do uso dos fatores de produção abrangidos no processo, em busca da obtenção de baixos custos de manufatura e o aumento da capacidade transformadora. Tal vantagem ocorre quando o aumento da capacidade de produção resulta num aumento da quantidade produzida com redução do custo unitário total, isto é, o custo médio do produto tende a ser menor com o aumento da produção. Em outras palavras, diz-se que há economia de escala quando o aumento dos recursos materiais e humanos utilizados proporciona uma diminuição do custo unitário de transformação.
A economia de escala se apresenta como aliada das empresas não só na redução dos custos de processamento, que muito contribui para a competitividade no mercado mundial, cada vez mais agressivo, como também pode proporcionar a construção de barreira de entrada. Esta passa a se constituir num dos fatores que inibem o ingresso de novos produtores na mesma área de atuação, ao lado da tecnologia, marcas, patentes, políticas governamentais, acessibilidade aos mercados e formação de carteis. A indústria de celulose e papel é um desses exemplos. Além de exigir um capital de investimento elevado, da ordem de bilhões de dólares, tem um organizado cartel bem estruturado que protege seus participantes da entrada de concorrentes. As empresas brasileiras produtoras de celulose e papel só conseguiram espaço de maior conforto dentro do setor quando passaram a usar o eucalipto como matéria-prima. A alta produtividade florestal obtida com novas tecnologias de reprodução de mudas, foi determinante para o acesso delas no fechado mercado mundial.
Por outro lado, países populosos, como a China e a Índia, podem garantir o funcionamento de grandes fábricas desde que seus habitantes tenham suficiente poder de compra para garantir sua operação. Tendo os custos fixos cobertos por grande demanda, podem fazer exportações por preço equivalente ao custo marginal, sendo imbatíveis quando o principal fator de penetração é o preço.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]