O turbulento ano de 2020 estava próximo de chegar ao fim e a estudante Jéssica Barreto, 19, já pensava em respirar aliviada por passar ilesa à covid-19, já que tanta gente não escapou da pandemia. Moradora do bairro de Paripe, no Subúrbio Ferroviário, ela cumpriu o isolamento por quatro meses até precisar voltar à rua para trabalhar. Numa dessas, teve contato com um infectado até então assintomático e, por volta do dia 15 de dezembro, testou positivo para a doença.
Jéssica faz parte de um universo muito maior: os casos de coronavírus aumentaram em diversos bairros do Subúrbio Ferroviário de forma exponencial entre outubro e dezembro do último ano de acordo com levantamento feito pelo Grupo GeoCombate Covid-19 BA, ligado à Universidade Federal da Bahia (Ufba). O levantamento aponta que os bairros de Itacaranha, Plataforma, São João do Cabrito, Alto do Cabrito e Lobato são exemplos de regiões que tiveram aumento nesses três meses. E isso pode impactar em toda a região da Suburbana.
O bairro em que Jéssica mora, por exemplo, é onde há mais casos confirmados da doença de acordo com o Portal de Transparência da Covid-19, divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Já são 1738 casos desde o início da pandemia – mais até do que o bairro de Plataforma, que foi o epicentro do Subúrbio durante a primeira onda e hoje registra um total de 1530 casos confirmados. Pesquisadora do Geocombate, a professora Patrícia Lustosa Brito aponta que os integrantes do grupo observaram que há um crescimento no número de novos casos na região, que vinha decrescendo até agosto. “Os últimos três meses chamaram muita atenção e é aí que podemos visualizar. Isso por si só já caracteriza um movimento que vemos em todo o Brasil”, diz.
Alguns desses bairros chamam mais atenção por algumas características específicas que favorecem uma maior circulação de pessoas: em Periperi, por exemplo, o final de linha tem um fluxo de ônibus muito forte e isso faz com que muita gente passe por lá. Assim como Plataforma e Itacaranha, que têm taxa de números ativos elevadas em relação ao próprio Subúrbio e pelo número de novos casos. Periperi tinha 73 casos ativos em novembro e em dezembro chegou a 144. Plataforma, por sua vez, tinha 51 casos em novembro e chegou a 71 novos casos no mês de dezembro. “Isso acaba levando a um aumento em outros bairros. Itacaranha, que é colado em Plataforma, saiu de cerca de 30 casos ativos em novembro para 100 em dezembro. Isso precisa ser levado em consideração”, avalia a professora.
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