Salvador é uma das cidades mais belas do mundo e também uma das mais desiguais. Por isso, é preciso aplaudir obras como o BRT, que melhoram a mobilidade urbana e facilitam a vida de milhares de pessoas. O BRT é, sem dúvida, uma obra essencial para Salvador, mas agora que será iniciada a construção da 2ª e da 3ª fase do projeto é preciso enorme cuidado para que a paisagem urbana da cidade não seja atingida em sua harmonia.
O projeto arquitetônico da 1ª fase do BRT parece ter sido feito pelas mãos grosseiras das empreiteiras e atulhou de viadutos uma das principais avenidas de Salvador e um bairro tipicamente residencial como o Itaigara. É possível, que pela complexidade do projeto, o excesso de viadutos tenha sido necessário, mas eles representam o que há de mais retrógado na moderna arquitetura das cidades.
Esses enormes viadutos, que passam pelo meio dos prédios desvalorizando os imóveis, estão sendo banidos no mundo inteiro. As principais cidades do planeta, inclusive Rio de Janeiro e São Paulo, estão dinamitando os viadutos, abrindo cada vez mais espaço para ciclistas e pedestres e Nova York transformou seu mais horrendo viaduto em um parque cheio de verde, a High Line.
Salvador está fazendo o contrário e cultuando os viadutos e de tal modo que uma avenida como a Orlando Gomes, que era completamente plana, passou a ter vários elevados e a Avenida ACM, que junto com a Av. Tancredo Neves constitui-se no centro comercial e financeiro da cidade, por conta do BRT, ficou entulhada de monstros de concreto. É preciso construir o BRT, mas preservar alguma coisa da beleza das avenidas de vale de Salvador um projeto urbano cheio de verde e de charme, obra do ex-prefeito e ex-governador Antônio Carlos Magalhães.
Naturalmente, não se pretende aqui fazer retroceder ou atrasar o projeto do BRT, pelo contrário, a população da cidade precisa de maior mobilidade urbana, mas é preciso que na implantação da 2ª e da 3ª fase do projeto, haja mais preocupação com a paisagem urbana da cidade e que as obras tenham mais leveza, de modo a não ferir a paisagem do Lucaia, da Av. Garibaldi, da Pituba e do Itaigara com enormes e pesados viadutos e estações mastodônticas. É preciso, se é que ainda dá tempo, colocar alguma leveza no projeto do BRT, afinal, como disse Aristóteles, “a beleza é a melhor carta de recomendação”. (EP-21/09/2020)