O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta sexta-feira (3) que a falta de compreensão em partes do governo sobre os riscos da pandemia de coronavírus “atrasam” o planejamento do Ministério da Saúde. Maia também disse que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, vem fazendo alertas “há algum tempo” que, se houvessem sido seguidos, o país poderia ter se organizado melhor. Maia deu a declaração durante uma videoconferência que discute ações para amenizar os impactos da crise no país. Ele não especificou quais são, na opinião dele, os setores do governo que não têm compreensão sobre os riscos do coronavírus.
Nesta quinta (2), o presidente Jair Bolsonaro explicitou diferenças com Mandetta. Ele disse que os dois vêm se “bicando” há algum tempo. Bolsonaro é contra, por exemplo, o isolamento social para conter o vírus, medida defendida pelo ministro e por autoridades sanitárias de todo mundo. Para Maia, faltou a alguns setores acreditarem que os impactos da pandemia seriam “muito grandes”. “Talvez nesse tema as informações que já tínhamos e os alertas que o ministro Mandetta já vem oferecendo há algum tempo, talvez nós pudéssemos ter tido uma ação para organizar melhor esse processo. Acho que em alguns setores faltou acreditar que os impactos seriam muito grandes. Na saúde as coisas caminham, mas também quando não tem uma compreensão de todo o governo, isso acaba atrasando o planejamento do Ministério da Saúde”, afirmou Maia.
Ainda de acordo com o presidente da Câmara, a “ficha demorou a cair” em alguns setores sobre o impacto que a pandemia teria na economia. Após críticas de Bolsonaro, Mandetta diz que seguirá trabalhando: ‘Foco na doença’. Maia afirmou que, nas últimas duas semanas, começou a haver um entendimento maior, dentro do governo, sobre o que o poder público deve fazer diante da crise. “Eu acredito que de dois finais de semana para cá eles começaram a compreender o que era fundamental, que não tinha saída se não passasse pelo governo federal. Como demorou um pouco para ter essa compreensão, e eu respeito, porque eles estavam numa linha de reformas, todas muito corretas, acho que estava todo mundo trabalhando em conjunto na linha certa, de melhor a qualidade do gasto público, melhor a qualidade do serviço público, mas acho que demoraram um pouco, acontece”, afirmou.
Nos últimos dias, o governo tem anunciado medidas, como o auxílio de R$ 600 mensais para trabalhadores informais e a complementação do salário de trabalhadores da iniciativa privada que tiverem jornada e ganhos reduzidos. Para Maia, o país não pode ter “vergonha” de gastar neste “momento de guerra”. “Acho que o Brasil não pode ter vergonha de gastar. Acho que aqueles que têm uma cabeça liberal ficam sempre constrangidos em gastar. O que eles têm que entender é que estão vivendo um momento de guerra. Em momento de guerra não tem constrangimento para gasto público”, disse o presidente da Câmara. Ele lamentou o país não ter aprovado um “grande pacote” para lidar com os impactos do coronavírus.
“Acho que isso talvez tenha nos faltado. Ter um grande pacote, um grande debate do governo dentro do parlamento, Câmara e Senado, e fazer a votação de um grande pacote para que a previsibilidade tivesse garantida no curto prazo. Não foi assim”, concluiu. O presidente da Câmara defendeu o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, durante a o bate-papo online. Para Maia, Bolsonaro fez uma escolha pessoal ao colocar o ministro para comandar a pasta. O presidente da Câmara ainda disse que Bolsonaro constrói com Mandetta um conflito que “não faz nenhum sentido”.
O presidente da Câmara disse ainda que, apesar das “dificuldades de organizar as coisas e ser desautorizado” pelo presidente da República, Mandetta cumpre um “papel fundamental”, baseado na ciência e em determinações da Organização Mundial da Saúde. Maia ainda afirmou que o presidente “não tem coragem de demitir Mandetta” e mudar oficialmente a política do ministério. Para o presidente da Câmara, Bolsonaro se tronou “comentarista do seu próprio governo”, e atrapalha quando vem a público criticar Mandetta. “Certamente se o presidente troca o ministro ele vai mudar a política do ministério, porque el não acredita naquilo que o ministro está fazendo. Ao mesmo tempo, ele não tem coragem de tirar o ministro e mudar oficialmente a política. Ele fica numa posição dúbia”, ressaltou. “O ministro tem tido toda a paciência para reafirmar a mesma posição, não sai do trilho por pressão do presidente”, afirmou.
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