Em vigor há exatos 20 dias, a nova linha de crédito imobiliário da Caixa Econômica Federal com fator de correção pelo índice oficial de inflação (IPCA) tem taxas de juros que variam de 2,95% a 4,95% ao ano e, em simulações, tem apresentado prestações entre 35% e 50% mais baixas quando comparadas a valores de contratos atrelados à Taxa Referencial (TR) – estes com juros entre 8,5% e 9,75% ao ano. Dito isso, a primeira impressão que se tem é que esta nova condição é a melhor opção para o consumidor – só que não. Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, cada caso é um caso e contas devem ser feitas na ponta do lápis.
De acordo com cálculo realizado pelo presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon), Carlos Henrique Passos, um financiamento, por exemplo, de R$ 150 mil contratado em 20 anos (240 meses) no molde “antigo”, com juros de 9% ao ano mais TR (zero desde o ano passado) sai com prestação inicial de R$ 1.750 e, final, de R$ 585,90. Já o mesmo valor e prazo a juros de 4,95% corrigidos dessa vez pela inflação (média de 3,22% ao ano) tem a primeira mensalidade em R$ 1.243 e, a última, na casa de R$ 1.213.
Ou seja, apesar de se começar pagando uma prestação menor em relação ao empréstimo indexado pela TR, pelo IPCA vai-se até o fim do contrato arcando com quase que o mesmo valor inicial. Isso porque, segundo Passos, pelos índices atuais e levando em conta o Sistema de Amortização Constante (SAC), na operação com o IPCA, o valor da prestação aumenta ao sofrer a mesma correção da inflação aplicada sobre o saldo devedor. Enquanto a prestação e o saldo devedor de contrato atualizado pela TR diminuem com o passar do tempo.
“Essa (nova) é uma modalidade benéfica ao mercado imobiliário, pois significa mais uma opção de crédito para o consumidor, que deve analisar o modelo que melhor lhe atende. É uma aposta (do governo) de que a inflação não vai crescer. Na verdade, não existe uma fórmula boa ou ruim, mas a mais adequada para uma família. Um jovem, por exemplo, que tem a necessidade de começar pagando menos, que tem uma perspectiva de melhora salarial ao longo do tempo, pode optar por esse produto. É opcional. É simular e saber o que é melhor (para cada um). Tomar uma decisão consciente”, diz o dirigente.
Para o gestor-executivo de vendas para Bahia e Espírito Santo da construtora e incorporadora MRV, Luís Felipe Monteiro, por ser “mais uma opção disponível para o consumidor”, a medida deve, sim, estimular o setor. Monteiro destaca que a inflação anda sob controle e que o ideal é que o mutuário esteja mesmo é atento ao seu “perfil”. “O que acontece é que a TR, historicamente, tem variado menos que o IPCA”, afirma.
Economista e representante do conselho federal da categoria (Cofecon) no estado, Paulo Dantas diz que a iniciativa da Caixa, isoladamente, é um tanto “acessória” e que, para de fato aquecer o setor, é preciso haver um conjunto mais robusto de medidas por parte do governo, como “aumentar o dinheiro” (em circulação). E fala que para isso é preciso haver investimento. “O mais importante é aumentar o dinheiro, a capacidade de compra por parte da população, que anda muito reduzida. Linha de crédito é sempre muito bom, tanto para pessoa física como empresas, e a construção civil um instrumento valiosíssimo, que gera emprego, dinamiza a economia e tem força para possibilitar a transformação do país”.