Marcado pela polarização entre direita e esquerda ao menos desde 2014, o debate político nas redes sociais voltou a ter o centro como um campo relevante durante a votação da reforma da Previdência. É o que aponta um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que analisou 1,24 milhão de mensagens no Twitter sobre a reforma, entre 8 e 11 de julho, antes e depois da votação do texto na Câmara.
O estudo mostra que, durante a votação da reforma , o protagonismo do centrão e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia , gerou uma discussão não só sobre a pauta em si, mas em torno do nome de Maia. Em um dia específico de recorde de citações nas redes ao projeto, o nome de Maia acabou tendo mais citações na internet do que a soma do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia Paulo Guedes.
Enquanto os simpatizantes do centro celebraram sua participação na aprovação do projeto, o presidente da Câmara foi criticado simultaneamente pelos outros dois pólos, tanto pela direita quanto esquerda, o que constituiu o centro da discussão. Segundo o levantamento, os perfis e interações ao centro representaram 14% da mobilização gerada com retuítes na rede social, enquanto os da direita somaram 57% e da esquerda, 19%.
— A polarização é quase uma constante desde 2014. No entanto, o centro está conseguindo ressurgir após a eleição de 2018. — explica o diretor da DAPP, Marco Aurelio Ruediger. — As pontas não querem Rodrigo Maia, não querem que o centro volte a se estabelecer, porque isso altera o jogo atual que é polarizado. O centro busca juntar pedaços e isso isola os extremos. Daí tanta crítica da esquerda e da direita. É curioso que a maior parte das críticas veio da direita mais olavista (ligada ao ideólogo de direita, Olavo de Carvalho), que tem uma pauta que transcende a reforma, mais preocupada com a radicalização dos costumes — completa.
Outra figura que transitou no centro durante o debate sobre a Previdência foi a deputada federal Tabata do Amaral (PDT-SP), que contrariou decisão do próprio partido, ao se posicionar pró-reforma, e agora pode ser expulsa da sigla. Criticada pela esquerda, a postura de Tabata foi elogiada por perfis situados ao centro e também pela direita. — Tabata e Maia são faces do mesmo fenômeno, ameaçam a atacar os extremos — pontua o diretor da DAPP, lembrando, contudo, que as lideranças de centro seguem com dificuldade para promover engajamento direto.