Trabalhadores da fábrica da Ford, em Camaçari, têm vivido sob tensão nos últimos dias com a possibilidade de uma demissão, em massa, na unidade da montadora que fica no município da Região Metropolitana de Salvador. De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade, Júlio Bonfim, a empresa teria anunciado o desligamento de 700 pessoas. Atualmente, são cerca de 10 mil funcionários trabalhando no local, 7 mil deles no setor operacional.
Em um vídeo divulgado em uma rede social no último sábado, Bonfim afirmou que a decisão teria sido tomada na semana passada, com as demissões, inicialmente, ocorrendo nos próximos dias. Segundo ele, a Ford estaria realizando uma readequação de pessoal, além do volume de produção, em virtude de perdas que, aqui no Brasil, chegariam a cerca de US$ 300 milhões. “Essa readequação impacta diretamente na mão de obra. Quem paga o pato somos nós”, afirmou.
Já em entrevista a reportagem, ele fez um panorama da situação. “Existe uma situação complicada em relação ao setor, em virtude da crise instalada na economia. As empresas alegam prejuízo, a Ford também na América do Sul, em torno de US$ 600 milhões e, com isso, eles precisam fazer essas readequações, as quais a GM, por exemplo, já começou. E aí, todo mundo está nesse movimento, uma vez que o Governo está dando carta branca para as empresas fazerem o que quiserem, como a retirada de direitos”, comentou.
Segundo o jornal Tribuna da Bahia outra justificativa dada, com relação aos prejuízos apontados pelas montadoras, seria pelo fato de as vendas, atualmente, estarem sendo mais feitas pelas pessoas jurídicas do que as pessoas físicas, o que diminui o valor agregado do mesmo, devido a concorrência entre as próprias empresas do setor. “Mas eu vejo isso por um lado diferente. As empresas estão se aproveitando dessa realidade e querem tirar os direitos e benefícios já conquistados. Isso em troca de um terrorismo de demissões. Sabemos da atual situação econômica, mas não podemos pagar este pato sozinho”, disse Bonfim.
Em 2016, uma ameaça semelhante de demissões em massa chegou a ser anunciada pela empresa, mas, após reuniões entre patrões e empregadas, a decisão foi modificada. É isso novamente que espera o presidente do Sindicato. Encontros com a empresa estão sendo realizados duas vezes por semana – um deles deve ocorrer nesta terça-feira. Bonfim garantiu que as demissões ainda não foram iniciadas. “Estamos buscando construir uma solução. Do contrário, entraremos em greve”, anunciou.
Em nota, a assessoria de comunicação da Ford aqui na Bahia confirmou que a empresa está em processo de negociação com o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, mas que, neste momento, seria prematuro dar mais detalhes sobre o tema.