

O Natal passou e fez bem ao coração ver as pessoas se confraternizando ao redor do que congrega. Agora estamos na expectativa da chegada do Ano Novo, que acontece, invariavelmente, sete dias depois. São, no entanto, comemorações diferentes, quase opostas em sua razão de ser.
O Natal é uma festa que torna os homens melhores, pois homenageia alguém que se sacrificou por todos nós. É uma comemoração que congrega e reúne pessoas em volta do amor, da amizade e da fé.
No Natal, as pessoas reúnem-se em casa, em volta da mesa, cultuando a história e a família. É como se quisessem dar às mãos, mostrar que estão juntos, para assim compartilhar a existência e a fé. O Natal é a festa do amor, da amizade e da fé.
O Ano Novo é diferente, é a festa do tempo e da esperança. As pessoas se reúnem para celebrar o que passou e sonhar com o que virá.
No Ano Novo, as mesmas pessoas se dividem, vão à praia, às festas, aos shows. É como se quisessem afirmar sua liberdade e mostrar que sabem que o tempo passou, mas que ainda há tempo para viver. A festa de Ano Novo remete a reflexão, no sentido de avaliar o que se fez ou não no ano que passou, mas remete muito mais a esperança, que garante que o ano que está chegando será melhor do que o ano que passou.
Outro dia, lembrei ao leitor um poema de Mário Quintana sobre o Ano Novo. Ele diz que no momento em que as sirenes tocam e os fogos espocam, no último instante do último dia do ano que passou, uma louca chamada Esperança atira-se do alto do décimo segundo andar do ano, para ao cair transformar-se outra vez em uma criança, a dizer que seu nome é Esperança. E toda a gente abraça essa criança, pois percebe que ela tem asas e pode nos levar aonde desejamos.
É tão grande a asa da esperança, que não adianta perceber que não há no céu nenhum indício que um novo ano está nascendo, na Via-Láctea nada indica que um ano novo começa, como lembra, com lirismo seco e profundo, o poeta Ferreira Gullar, por isso ele nos diz que que o ano “não começa, nem no céu nem no chão do planeta: começa no coração”.
O poeta e escritor inglês Charles Lamb disse, em um ensaio maravilhoso sobre o Ano Novo, que todo homem tem dois aniversários. Um deles é o dia em que viemos ao mundo e que comemoramos todos os anos. O outro é o nascimento de um novo ano, cuja passagem é tão importante que mobiliza a todos, em toda parte, seja ele rei ou sapateiro. “Ninguém jamais encarou o primeiro de janeiro com indiferença. É a partir dele que todos datam seu tempo e contam o que resta. É o nascimento do nosso Adão comum”, diz Lamb.
O Ano novo é assim, feito de tempo e esperança. E não importa se para alguns ainda há muito tempo a contar e se para outros o tempo se foi sem remissão, só resta lembrar dele com carinho, afinal para ambos ainda resta a esperança de que o Ano Novo será melhor do que o ano que passou.
Publicado no jornal A Tarde em 26/12.2025