

Na segunda quinzena de outubro último , os presidentes Lula e Trump foram à Malásia para participar da conferência da ASEAN-Associação dos Países do Sudeste Asiático, onde se encontraram para discutir o relacionamento comercial bilateral, com destaque para o chamado Tarifaço. Antes , Lula esteve na Indonésia para aprofundar o intercâmbio comercial, incluindo exportações e abertura de mercados para nosso agronegócio; e Trump manteve encontro com o líder chinês Xi Jinping na Coreia do Sul, quando firmaram uma espécie de trégua comercial por 12 meses.
Apesar de ainda não render nada de efetivo na redução de tarifas impostas a nossos produtos nas vendas para o mercado norte-americano, as reuniões entre as equipes , lideradas por Mauro Vieira, pelo lado do Brasil, e por Marco Rubio, pelo lado dos EUA, continuam e ficou a esperança de que possa haver em breve uma diminuição de tarifas para alguns produtos do agro brasileiro, como café, manga , e carne bovina. Conquanto seja difícil elaborar cenários para esses itens, dada a imprevisibilidade do Trump, a lógica indica maior possibilidade para a redução ou remoção tarifária para manga e café, porque são culturas não cultivadas nos EUA por razões de falta de aptidão climática . No caso da pecuária, os pecuaristas americanos são eleitores predominantes de Trump e têm um indiscutível poder de pressão.
O encontro entre Trump e Xi resultou numa trégua comercial de 1 ano, e isso pode afetar o Brasil, já que a China decidiu, entre outras coisas, retomar as compras da soja norte-americana, o que pode impactar nossa vendas dessa leguminosa para o mercado chinês.
Mas, a viagem que aparentemente rendeu mais frutos foi a passagem de Lula pela Indonésia (mercado de quase 290 milhões de consumidores), para abrir mercados e aumentar nossas exportações agropecuárias para esse país, que já é, segundo informações do Ministério da Agricultura, o quinto destino das nossas exortações setoriais, com vendas de 4,2 bilhões de dólares em 2024. Se a classificação adota o conceito de blocos para os destinos de nossas vendas setoriais, a Indonésia fia mais atrás, pois o bloco da União Europeia e outros destinos passam a frente. A Holanda e Singapura, por exemplo, estão à frente da Indonésia, porque são países receptores de exportações brasileiras, mas são centros de distribuição para outros países , por conta do eficiente porto de Roterdã e do porto e boas condições logística de Singapura. Quais foram os produtos do agro beneficiados com o acordo entre o Brasil e os indonésios?
Nas carnes bovina e de aves, o Brasil exporta habitualmente para o os indonésios. No início de setembro último, 17 novos frigoríficos haviam sido habilitados para exportação de carne bovina desossada e o acordo agora envolve autorização para venda de carne com osso e miúdos bovinos, além de novas habilitações de frigoríficos em novembro. Na carne de aves, foi firmado um acordo sanitário e o prazo máximo de embargo nas nossaS vendas para eles em caso de gripe aviária caiu de 12 para 3 meses, o que possibilitará o impulso de mais vendas e maior previsibilidade para os nossos exportadores e avicultore, sem o risco de longos embargos na ocorrência de episódios de influenza aviária. Exportações de frutas, como melão e maçã terão mercados abertos, diversificando a pauta exportadora.
Algodão e café também serão beneficiados , sendo que, como eles também são produtores de café, principalmente do tipo robusta, menos nobre que o tipo Arábica, produzido aqui, o Brasil abrirá o seu mercado para o café da Indonésia, para uso em blends. Exportações do complexo soja (farelo e soja em grão) terão mercados ampliados.
Finalmente, o trigo já vem sendo exportado para os indonésios e compras crescentes são esperadas com o Acordo agora firmado. O Brasil , que é um importador líquido de trigo, e importa este cereal para o seu consumo interno, deve buscar ser autossuficiente por motivos de segurança alimentar, e aumentar sua ambição, produzindo para as necessidades do mercado interno e para suprir o mercado exportador, já tendo sido observadas vendas crescentes para a Indonésia, Arábia Saudita, Vietnã, Sudão, Marrocos e Egito, dentre outros países,
Em suma, a viagem e o acordo celebrado com o governo da Indonésia foram ganhos indiscutíveis da nossa política comercial, com a participação decisiva da equipe do ministro Carlos Fávaro e da nossa diplomacia.
Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail: jose.macielsantos@hotmail.com