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COP30 COMEÇA OFICIALMENTE NESTA SEGUNDA COM FOCO EM TRANSIÇÃO ENERGÉTICA, FINANCIAMENTO E MUDANÇA CLIMÁTICA 

João Paulo - 10/11/2025 07:00

A 30ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP30, começa oficialmente nesta segunda (10) em Belém, no Pará. O evento deve durar cerca de duas semanas e tem um peso fundamental para a ação global contra as mudanças do clima, cada vez mais necessária visto os recentes episódios climáticos extremos no Brasil e no mundo. Por isso, cinquenta mil pessoas estarão em Belém nos próximos dias: diplomatas, governantes, ativistas e indígenas, cientistas, CEOs de empresas, entre outros. A Cúpula de Líderes, realizada entre quinta (6) e sexta (7), deu o tom do que deve dominar as negociações da COP30. Os recados políticos foram claros: acelerar a transição energética, fortalecer o financiamento climático e proteger as florestas tropicais. Agora, a expectativa se volta para Belém. É na cidade, nessa primeira COP na Amazônia, que esses compromissos terão de sair do discurso e virar plano concreto, com metas, prazos e recursos definidos.

A COP30 é 30ª conferência do clima da ONU, um evento que reúne governos do mundo inteiro, diplomatas, cientistas, membros da sociedade civil e diversas entidades privadas com o objetivo de debater e buscar soluções para a crise climática causada pelo homem. A conferência vem sendo realizada anualmente desde 1995 (exceto em 2020, por causa da pandemia) e o termo COP é uma sigla em inglês que quer dizer “Conferência das Partes”, uma referência às 197 nações que concordaram com um pacto ambiental da ONU no início da década de 1990.

O tratado, chamado de Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), tem como principal objetivo estabilizar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e, assim, combater a ameaça humana ao sistema climático da Terra, cada vez mais evidente nos últimos meses. Nos últimos anos, por exemplo, o número de tornados registrados no Brasil vem aumentando. Aliado a isso, segundo o observatório europeu Copernicus, outubro de 2025 foi o terceiro outubro mais quente já registrado no planeta, com uma temperatura média global de 15,14 °C — 0,7 °C acima da média de 1991 a 2020 e 1,55 °C acima do período pré-industrial.

Por causa desse recorde e de meses anteriores, 2025 deve encerrar entre os três anos mais quentes da história. As discussões em Belém se concentram em três grandes eixos: transição energética, adaptação climática e financiamento. Na frente da transição energética, o Brasil pretende liderar a construção do chamado “mapa do caminho”, uma expressão usada para definir o roteiro político e técnico que vai estabelecer etapas, prazos e responsabilidades de cada país na substituição do petróleo, gás e carvão por fontes renováveis e eficiência energética.

A expectativa do governo Lula na COP30 é consolidar o Brasil como protagonista global da agenda climática e como mediador entre o Norte e o Sul Global. O país chega a Belém com a missão de mostrar resultados concretos em transição energética e proteção florestal, e de reforçar seu papel político como anfitrião da conferência. O discurso do presidente Lula durante a Cúpula de Líderes deixou clara a estratégia brasileira: defender uma transição energética justa, capaz de equilibrar o avanço das energias renováveis com a valorização dos combustíveis sustentáveis.

O governo aposta no Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, o chamado Belém 4X, como uma vitrine desse posicionamento. A iniciativa, co-patrocinada por Brasil, Itália e Japão, busca quadruplicar o uso global de combustíveis sustentáveis até 2035, com acompanhamento anual da Agência Internacional de Energia (AIE). Na visão do Planalto, a eletrificação sozinha não é suficiente para descarbonizar setores intensivos como transporte pesado e indústria, e por isso o país aposta em hidrogênio verde, biogases, biocombustíveis e combustíveis sintéticos como parte da solução.

Ao mesmo tempo, o governo quer usar a COP30 para consolidar o TFFF como um modelo inovador de financiamento climático. Como funcionam as discussões da COP, a conferência do clima da ONU. O fundo, proposto pelo Brasil, busca gerar recursos de forma permanente para países que mantêm suas florestas em pé, com base em investimentos de renda fixa e não em doações. O anúncio de aportes de mais de US$ 5,5 bilhões foi recebido como um sinal político importante de que o país pretende transformar conservação em oportunidade econômica.

Mas o governo também enfrenta críticas e dilemas. Organizações da sociedade civil alertam que apostar em combustíveis sustentáveis não pode substituir o esforço de reduzir o uso de petróleo, sob o risco de adiar a transição energética. Além disso, o licenciamento de blocos de petróleo na margem equatorial poucos dias antes da conferência gerou cobranças de coerência em relação ao discurso de descarbonização. “O sinal político do discurso de Lula é muito positivo, ao colocar na mesa o que deve ser o tema central da COP — implementar a decisão de Dubai de abandonar os combustíveis fósseis”, diz Cláudio Ângelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima.

Internamente, o Palácio do Planalto vê a COP30 como uma oportunidade de reafirmar o Brasil como ponte diplomática e de projetar a imagem do país como líder dessa transição energética que não exclui países em desenvolvimento. A expectativa é que Lula use a conferência para pressionar os países ricos por mais financiamento climático e por regras mais justas de acesso a crédito verde, reforçando o papel político que o Brasil quer desempenhar nas próximas décadas. “Sabemos que será difícil avançar nesse tema, mas uma COP que não fala de fósseis falha em seu propósito. As palavras importam — e Lula, como anfitrião, deu à presidência brasileira o mandato político de que precisava”, acrescenta Ângelo.

Os resultados esperados da COP30 vão muito além de declarações de intenção. A conferência é vista como um marco decisivo para transformar o consenso político construído desde Dubai em ações concretas e mensuráveis, capazes de recolocar o planeta na rota do limite de 1,5°C. O primeiro resultado esperado é o avanço em torno das metas climáticas (NDCs). Até agora, pouco mais de 100 países enviaram suas novas metas para 2035, mas a maioria ainda está muito aquém do necessário. Hoje, as metas em vigor cobrem apenas 30% das emissões globais e levariam a uma redução de 4% até 2035, quando a ciência aponta que seria preciso cortar cerca de 60% para estabilizar o clima.

O Brasil e outros países esperam que Belém seja o espaço para reabrir o ciclo de ambição, com compromissos mais fortes, prazos definidos e mecanismos de revisão mais rigorosos. “Os discursos são bem-vindos, mas precisamos que isso vire compromisso formal: que os países que ainda não entregaram, entreguem, e que os que entregaram pouco, revejam e melhorem suas metas”, afirma Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima. Outro resultado esperado é que a conferência consiga dar forma ao “mapa do caminho” da transição energética.(G1)

Foto: REUTERS/Adriano Machado

 

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