

O Projeto Sergipe Águas Profundas – SEAP é o projeto mais importante para o Nordeste brasileiro atualmente. Ele está localizado no litoral de Sergipe a cerca de 100 km da costa, na Bacia Sergipe-Alagoas, e tem por objetivo a exploração de reservas de petróleo e gás natural em águas ultraprofundas, impulsionando a produção energética e o desenvolvimento econômico do estado.
O SEAP se estrutura em dois módulos, conhecidos como SEAP I e SEAP II, cada um com sua respectiva Unidade Flutuante de Produção, Armazenamento e Transferência (FPSO). O investimento estimado é de US$ 5 bilhões e a capacidade produtiva é de até 240 mil barris/dia de petróleo e de 18 milhões de m3/dia de gás natural. Estima-se que o primeiro óleo possa ser extraído entre 2029 e 2030, embora outras análises de viabilidade apontem para um início das operações por volta de 2026-2028 em cenários mais otimistas. O pico de produção está previsto para ocorrer entre 2030 e 2035.
Há previsão de construção de um gasoduto de escoamento (Rota SEAP) para transportar o gás produzido para a rede de distribuição em Japaratuba, Sergipe. As FPSOs foram desenvolvidas com foco na eficiência e sustentabilidade, incluindo reduções no peso seco das plataformas e soluções de baixo carbono. A Petrobras tem estudado inclusive a possibilidade de desenvolver uma plataforma própria, caso os modelos de afretamento não alcancem a viabilidade desejada, embora isso possa demandar um prazo maior para implantação.
O avanço do projeto conta com a articulação conjunta entre governo estadual, Petrobras e órgãos como a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Eventos e encontros, inclusive no âmbito da OTC Brasil e Bahia Oil & Gas Energy (BOGE) e outros fóruns nacionais e internacionais, têm servido para afinar as expectativas e alinhar os detalhes técnicos e operacionais do empreendimento. Merece destaque os esforços desenvolvidos pelo Senador Laércio Oliveira empurrando o projeto por todos os lados.
O projeto é visto como um motor de transformação para Sergipe, com potencial para gerar empregos, atrair investimentos e dinamizar cadeias produtivas locais em setores de tecnologia e suprimentos. Além de impulsionar a produção nacional de petróleo e gás, o projeto fortalece a matriz energética do país, contribuindo para a diversificação e segurança do abastecimento energético. Paralelamente à implantação do SEAP em águas profundas, a Petrobras avança no descomissionamento das antigas plataformas fixas em águas rasas no estado. Essas informações ressaltam tanto os desafios técnicos e logísticos quanto o potencial transformador do SEAP, configurando-o como uma das principais iniciativas do setor no país para os próximos anos.
Recentemente, a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia Anjos, confirmou as negociações com a SBM Offshore para as plataformas FPSOs. Em entrevista ela disse que as negociações reduziram as incertezas sobre o projeto, com expectativas de antecipar a entrada em produção. Segundo a diretora, o fato de a empresa ter ofertado para as duas plataformas pode ajudar a ter ganhos de escala e a reduzir os prazos. A Petrobras vem tentando contratar as unidades há anos, sem sucesso. Desta vez, a companhia recebeu quatro propostas pelas plataformas.
O Estado de Sergipe é considerado a principal nova fronteira de produção de gás do país e a exploração poderia marcar a chegada do gás de águas profundas na região. O SEAP mostra que é possível tirar o Nordeste de uma posição incomoda de participação no PIB nacional que não passa dos 13%, enquanto a sua participação na população do país é de 28%. Os principais investimentos do Governo Federal são dirigidos para o Sudeste, região onde há maior concentração de riqueza, atrai mais investimentos privados, indicam menor tempo de maturação dos empreendimentos e forçam, assim uma disparidade regional imensa. A correção dessa situação depende de todos, mas principalmente da realização de projetos, como o SEAP, que estão no papel há anos e não se transformam em realidade.
Se não houver uma contraordem, parece que desta vez o SEAP vai ser realizado. O seu adiamento contribui para manter a região pobre e eternamente à espera do desenvolvimento. Embora muitos não acreditem, mas a presença do petróleo e gás natural como fonte principal de geração de energia ainda vai durar por muito tempo, e nada justifica manter essa riqueza enterrada nas profundezas do oceano. Se a região se desenvolver talvez consiga dar maior contribuição à redução da poluição do planeta.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.)