

O ex-prefeito ACM Neto é candidato ao governo do Estado e vem afirmando isso em todas as suas entrevistas. Nos últimos meses, no entanto, a oposição vem especulando com a hipótese de o ex-prefeito não ser candidato. Essa hipótese que, sob o ponto de vista pessoal, pode até passar na cabeça de Neto, sob o ponto de vista político, é quase impossível acontecer.
É quase impossível porque, se a oposição não tiver um nome de “referência” potente, corre o risco de simplesmente fragmentar os votos ou ficar dependente de coadjuvantes, o que enfraquece todo o bloco. A oposição precisa de um candidato forte liderando a oposição para assim viabilizar a eleição de deputados federais e estaduais.
Nesse contexto, ACM Neto aparece como o único nome com densidade eleitoral que reúne condições de liderar a oposição. Ele tem um compromisso com seu grupo político e desistir da candidatura, como fez em 2018, seria deixar na mão os companheiros da aliança que o apoia.
Embora esteja liderando as pesquisas, ACM Neto enfrenta, neste momento, um cenário que não é o melhor para sua candidatura, afinal, seu opositor, o governador Jerônimo Rodrigues (PT), já ocupa a máquina pública, o que implica vantagens eleitorais claras. Além disso, com a popularidade do presidente Lula em alta e com seu inegável prestígio na Bahia, e com a direita se dividindo quanto à escolha do candidato à Presidência, o ambiente eleitoral não será fácil.
Nesse sentido e sob o ponto de vista pessoal, talvez fosse mais conveniente não sair candidato a um cargo majoritário, reservando-se para a disputa em 2030, evitando não só mais uma possível derrota, como também ficar sem mandato por mais um período (afinal, já são sete anos), e guardando-se para enfrentar um novo tempo eleitoral, quando Lula não será mais candidato e não haverá reeleição no âmbito estadual.
Parece um bom argumento, mas política não funciona assim. ACM Neto precisa ser candidato para evitar três riscos fatais:
Em primeiro lugar, porque a aliança que o apoia estaria frente à ausência do “puxador” de votos. Neto é, neste momento, o nome mais capaz de atrair votos casados para senadores, deputados estaduais e federais do bloco oposicionista na Bahia. Sem um candidato de peso como ele, todo o arco político de oposição pode ficar mais dependente de apoios externos e menos articulado internamente.
Em segundo lugar, se não for candidato, haverá perda de protagonismo, pois permanecer fora da disputa pode significar abandonar a liderança política dentro da oposição baiana, cedendo espaço para outros nomes e reduzindo seu capital político para os pleitos futuros. E, por fim, estaria aceitando a derrota de forma antecipada e, mesmo que por cálculo de risco, transmitiria à opinião pública e aos filiados a mensagem de que o grupo oposicionista não confia plenamente em si mesmo — o que pode afetar engajamento, mobilização e confiança do eleitor.
Por tudo isso, ACM Neto vai ser candidato, mesmo num cenário difícil para a oposição. E não se trata apenas de se candidatar porque “quer”, mas porque, para o sistema político da Bahia como está montado, sua candidatura tem função de manter junto seu grupo político, que já sofre baixas seguidas de prefeitos que estão optando por seguir o governador Jerônimo Rodrigues. Caso ele opte por ficar de fora da disputa, o custo para seu campo político será alto — muito mais alto do que os riscos de entrar.
O ex-prefeito ACM Neto não pode se dar ao luxo de desistir da disputa eleitoral, sob pena de perder o capital político que conquistou até aqui. O cenário é desafiador, mas toda eleição é desafiadora por definição e, caso tudo dê errado, a eleição para a Prefeitura de Salvador está logo ali, em 2028. (EP – 27/10/2025)



