Entre montanhas sagradas, rios refrescantes e o silêncio que inspira cura, o Vale do Capão se prepara para mais um momento de encontro e transformação. De 20 a 22 de novembro, o Expande Capão transforma o coração da Chapada Diamantina em um espaço de diálogo entre povos originários e a ciência psicodélica contemporânea, propondo reflexões profundas sobre consciência, saúde mental e espiritualidade.
Durante três dias, a vila do Capão recebe pesquisadores, lideranças e especialistas que abordam o uso da Cannabis e de substâncias enteógenas — como ayahuasca, jurema e cogumelos — sob perspectivas médicas, culturais e espirituais.
Entre os palestrantes confirmados estão nomes de destaque internacional que representam diferentes olhares sobre o campo da ciência, da espiritualidade e das políticas públicas relacionadas às substâncias psicodélicas.
Vozes que inspiram novos paradigmas
Entre os palestrantes confirmados está o psicólogo e pesquisador Augusto Vitale Marino, referência internacional nas políticas públicas sobre Cannabis. Ex-presidente do Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA) do Uruguai, Vitale foi um dos principais articuladores da experiência pioneira de regulação da maconha durante o governo de José Mujica. Ele traz ao Capão sua vivência acadêmica e institucional no campo das políticas públicas, saúde coletiva e regulação de substâncias.
O físico e neurocientista Dráulio Barros de Araújo, professor titular do Instituto do Cérebro da UFRN, também está entre os destaques da programação. Pioneiro em estudos clínicos sobre ayahuasca e DMT, Dráulio investiga há mais de uma década os efeitos terapêuticos dessas substâncias no tratamento da depressão e de distúrbios mentais, contribuindo para o avanço da medicina psicodélica no Brasil e no mundo.
Da intersecção entre psicologia, espiritualidade e feminilidade, o Expande Capão recebe Tabata Gerk, psicoterapeuta, mestre em Psicologia pela UnB e sacerdotisa, especializada em terapia e integração psicodélica pelo instituto Psychedelics Today (EUA). Co-fundadora da rede Hijas del Sur, Tabata atua há mais de dez anos com cursos e imersões que unem ciência moderna e sabedoria ancestral, promovendo o autoconhecimento e o cuidado integrativo.
O indigenista, músico e escritor Jairo Lima, com mais de 30 anos de atuação no Vale do Juruá (Acre), é outro nome essencial na programação. Conselheiro sênior do Instituto Yorenka Tasorensti, dirigido por Benki Ashaninka, e atual diretor de operações do Fórum Mundial da Ayahuasca 2026 (Espanha), Jairo traz ao evento uma visão sobre o conceito de biocultura, que conecta saúde mental, espiritualidade e território.
“Um ponto importante é essa nova abordagem da ayahuasca no contexto indígena, enquanto conceito de biocultura é a construção do indivíduo em coletividade estruturada a partir de uma planta mestra. Isso nos faz refletir sobre os marcos psiquiátricos ou psicológicos da saúde mental e como essas substâncias interagem quando olhamos pela perspectiva das bioculturas, e não apenas como enteógenos ou substâncias psicoativas”, explica.
Da medicina contemporânea, a Dra. Mariane Ventura, médica formada pela UFBA, especialista em Medicina de Família, Cannabis Medicinal e Medicina da Dor, também marca presença. Ela trará uma abordagem sobre a conexão entre medicina ancestral e ciência moderna, destacando o papel da Cannabis na saúde e na justiça social.
“A medicina ancestral, que a humanidade conhece há tanto tempo, foi silenciada pelo proibicionismo, mas hoje vive uma reviravolta científica e regulatória. Pensar a cannabis e outras medicinas da natureza é também pensar em meio ambiente, justiça social e direitos humanos. Não existe cura desconectada da terra e do ecossistema que nos sustenta”, afirma.
Saberes ancestrais: perspectivas indígenas
O Expande Capão recebe também representantes indígenas que ampliam o olhar sobre saúde, cultura e espiritualidade. A médica Adana Omágua Kambeba, do povo Kambeba — também conhecido como Povo das Águas —, representa uma rara confluência entre a ciência ocidental e a sabedoria tradicional. Primeira mulher do seu povo a se formar em medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Adana é referência no diálogo entre a medicina indígena e a medicina científica, com atuação voltada à saúde da mulher e à prescrição de Cannabis em práticas integrativas.
“É sobre trazer um diálogo intercultural entre a ciência indígena e a ciência ocidental, em especial no campo da medicina. Incluindo o óleo de Cannabis na prática clínica. E o reconhecimento das medicinas da floresta como uma ciência, de alta tecnologia, da natureza e dos povos indígenas”, afirma Adana.
Já Daiara Hori Figueroa Sampaio, conhecida como Duhigô, do povo Tukano do Alto Rio Negro (AM), é artista, ativista e educadora que defende o direito à memória e à verdade dos povos indígenas. Representante indígena no Conselho Nacional de Cultura (MinC), Daiara compartilha no Expande sua visão sobre arte, espiritualidade e ancestralidade como caminhos de cura coletiva e resistência cultural.
Expande Capão: consciência, ciência e cura
O Expande Capão nasce com o propósito de criar um espaço de encontro entre povos originários e ciência psicodélica, ampliando o diálogo entre saberes ancestrais e ciência moderna, e fortalecendo a consciência sobre os caminhos possíveis para um futuro mais equilibrado. A curadoria é assinada por Marco Algorta e Diogo Busse, nomes com ampla experiência em políticas sobre drogas, cultura e ciência.
O fórum acontece em paralelo ao Capão in Blues, festival que consolidou o Vale do Capão como polo de música, cultura e turismo sustentável. Durante o feriado da Consciência Negra, o público poderá participar das mesas e debates do Expande e, ao mesmo tempo, curtir os shows gratuitos do festival, reunindo grandes atrações nacionais e internacionais.
O Expande Capão é uma realização da Viramundo Produções, com patrocínio da aLeda. A iniciativa reforça o Vale do Capão como polo de cultura, educação e turismo sustentável, transformando conhecimento e natureza em experiências vivenciais que estimulam aprendizado, consciência e integração comunitária.
Foto: Divulgação
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