terça, 14 de outubro de 2025
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UBER RESTRINGE MODELOS DE AUTOMÓVEIS E GERA INSATISFAÇÃO ENTRE MOTORISTAS

VICTOR OLIVEIRA - 14/10/2025 17:24

A partir de 2026, motoristas em todo o Brasil precisarão se adequar a novas exigências da Uber para as categorias Comfort e Black, voltadas a corridas de maior valor. As mudanças incluem critérios mais rigorosos quanto ao ano e modelo dos veículos, padrões mínimos de avaliação e número de viagens realizadas, o que tem gerado preocupação entre condutores que já investiram em carros para essas categorias.

Segundo a empresa, as atualizações foram definidas a partir de pesquisas com usuários e de análises do mercado automotivo, com o objetivo de atender às preferências dos passageiros — como conforto, aparência e confiabilidade do veículo. No Uber Black, os automóveis precisarão cumprir critérios específicos de fabricação e cor, enquanto a nota mínima dos motoristas será de 4,85 estrelas e o número mínimo de corridas exigido será de 100. Alguns modelos deixarão de ser aceitos, como Renault Kardian, Citroën Basalt, Chery Tiggo 3X e Hyundai Kona Hybrid.

No caso do Uber Comfort, o ano mínimo de fabricação varia conforme o modelo, e alguns veículos, como o Renault Logan, serão totalmente removidos da categoria em meados de 2026. As novas regras têm gerado descontentamento entre motoristas, que questionam a comunicação e o impacto financeiro das mudanças — especialmente entre aqueles que investiram recentemente em veículos para atuar nas categorias premium.

Especialistas em mobilidade urbana apontam que ajustes periódicos nas categorias superiores são comuns no setor, mas destacam que transparência e tempo de adaptação são fundamentais para evitar prejuízos e preservar a confiança dos motoristas na plataforma. A evolução do mercado de transporte por aplicativo e a exigência por veículos mais novos refletem a busca por maior segurança e qualidade na experiência dos passageiros, mas também demandam equilíbrio para não prejudicar os profissionais que dependem desses serviços como principal fonte de renda.

Esse modelo de categorias premium, no entanto, tende a ser mais vantajoso para motoristas que atuam de forma intensiva. De acordo com levantamento do GigU, a receita desses profissionais varia conforme a cidade e a carga horária. Em média, um motorista fatura entre R$ 77 mil e R$ 103 mil por ano, trabalhando de 50 a 60 horas semanais. No entanto, os custos operacionais — como combustível, manutenção, seguro e impostos — reduzem consideravelmente esse valor. O lucro líquido anual estimado varia de R$ 28 mil a R$ 51 mil, dependendo da localidade, mostrando que, mesmo com ganhos elevados, a margem real ainda é limitada.

“A flexibilidade, embora atraente, muitas vezes vem acompanhada da ausência de benefícios formais, estabilidade e proteção previdenciária. Por isso, a expansão das plataformas digitais precisa ser acompanhada de políticas públicas e regulamentações que garantam equilíbrio entre inovação, geração de renda e proteção ao trabalhador”, diz Luiz Gustavo Neves, co-fundador e CEO da fintech.

O desafio, portanto, é equilibrar a experiência premium para os passageiros e a sustentabilidade financeira para os motoristas — garantindo que a profissionalização do serviço não se transforme em um fardo econômico para quem sustenta o modelo.

Foto: Reprodução

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