

Nos últimos dias surgiu com força a hipótese de uma chapa presidencial formada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tendo Michelle Bolsonaro como vice. A ideia seria juntar a imagem técnica e de governança de Tarcísio com o apelo à base bolsonarista. É até o momento a melhor chapa apresentada pela direita e tem pontos que mostram ser competitiva, mas, ainda assim, tem condicionantes fortes.
Inicialmente, e como pontos fortes, aparece o fato de Tarcísio ser visto por analistas e por parte do centrão como um nome mais palatável ao eleitor moderado e ao empresariado do que candidaturas diretas do clã Bolsonaro. A presença de Michelle seria uma forma de manter coesa a base bolsonarista e Tarcísio na cabeça da chapa poderia facilitar costuras com partidos de centro-direita.
Mas há condicionantes que precisam ser levados em conta. O primeiro deles é que o Presidente Lula continua como favorito nas pesquisas. O atual presidente aparece à frente em levantamentos e médias de institutos, o que impõe à oposição a necessidade de construir não só uma antítese ideológica, mas uma narrativa capaz de ganhar em amplos setores do eleitorado. 
Em segundo lugar vem a indecisão de Tarcísio, que não se mostra decidido a ser candidato e tem mantido a prioridade da reeleição em São Paulo em discursos públicos. E, para completar, existe a resistência de parte da Bolsonaro Family e outros apoiadores. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, critica Tarcísio sempre que pode e já afirmou que, caso Jair Bolsonaro não dispute, ele será candidato.
Há ainda duas questões adicionais. Uma delas seria a capacidade de Michelle, que seria um alvo fácil para a esquerda e com muitos pequenos escândalos em sua trajetória, enfrentar incólume uma campanha presidencial que se afigura violenta. Isso, no entanto, pode ser até um estímulo para a militância bolsonarista. Mas o nome de Michelle dificultaria a união com o centrão, por exemplo, que já tem o nome do senador Ciro Nogueira definido como vice de Tarcísio.
Um problema mais grave são as múltiplas candidaturas que estão à direita. Ronaldo Caiado, por exemplo, não descarta postular ao Planalto, mesmo com a chapa Tarcísio/ Michele definida e até pensa em mudar de partido caso o União Brasil assuma a chapa. E outros pré-candidatos seguem sua campanha como Romeu Zema e Ratinho Jr. o que cria um cenário de fragmentação dentro do campo da oposição, o que pode forçar negociações complexas por tempo de TV, coligações e programas. Além disso, não está descartado o aparecimento de um outsider, como foi o caso de Pablo Marçal na disputa pela Presidência de São Paulo.
De todo modo, a hipótese de uma chapa Tarcísio–Michelle é viável politicamente, traz elementos de coesão entre setores conservadores e apelo simbólico, mas não é suficiente por si só para garantir competitividade contra Lula.
Para que se torne competitiva, a chapa precisará resolver a ambição/agenda estadual de Tarcísio; obter adesão clara do núcleo duro bolsonarista (familiares inclusive) sem fissuras públicas; e articular uma frente partidária mais ampla que leve em conta o Centrão e os moderados. (EP – 06/10/2025)