A indústria de energia eólica e solar no Brasil e também na Bahia está na maior crise desde que nasceu, há cerca de 20 anos.
Após um recorde histórico em 2023, quando o Brasil instalou 4,8 gigawatts (GW) de energia eólica, o setor entrou em trajetória e em 2025, o volume de novas instalações vai cair a menos da metade com apenas 2 GW adicionados à matriz.
O problema é que o aumento da produção com novas fontes eólicas e solares criou um excesso de energia durante o dia e não há linhas de transmissão suficientes para absorver toda a eletricidade, o que força o operador da rede a limitar a produção desses projetos.
O quadro preocupa representantes da indústria, que já classificam o momento como a pior crise da história do setor.
Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), disse ao site da Exame, que sob o ponto de vista micro, o problema tem sido os cortes de geração promovidos pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).
Para evitar sobrecargas momentâneas nos sistemas de transmissão – o que pode derrubar a rede –, o ONS acaba reduzindo a energia que os projetos eólicos poderiam produzir, reduzindo a receita esperada na época em que os contratos foram assinados.
Entre 2021 e julho de 2025, o volume total de energia renovável cortada no Brasil alcançou cerca de 30 TWh. Esse montante é equivalente a todo o consumo anual de energia elétrica de Pernambuco, de acordo com o Balanço Energético Nacional.
Mas a recuperação plena do setor deve ocorrer em 2027, quando os contratos de 2025, especialmente com grandes consumidores como data centers, começam a ser executados.
Além disso, a expectativa de retomada do crescimento está ligada a projetos de lei em andamento, como a criação do mercado regulado de carbono e a regulamentação da energia eólica offshore, que explora a força do vento no alto-mar. Outro fator relevante é o avanço do hidrogênio verde, um combustível renovável produzido pela eletrólise da água, usando eletricidade proveniente de fontes renováveis como solar e eólica.
Em meados do ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) revogou as concessões de 16 centrais geradoras eólicas no Nordeste.
Em Campo Formoso, na Bahia, o projeto da empresa Ventos de São Januário Energias Renováveis, previa a instalação de seis centrais geradoras eólicas, totalizando 268 MW de potência instalada, foi cancelado. Outro projeto de grande porte afetado foi o de Santana do Matos, no Rio Grande do Norte. Piauí e Pernambuco tiveram projetos cancelados.
Com isso, o Nordeste, que lidera a geração de energia eólica no Brasil, perde um volume significativo de investimentos e de potencial energético que poderia contribuir para a diversificação da matriz elétrica do país.