Carro-chefe da economia baiana, o Complexo Petroquímico do Nordeste, instalado em Camaçari, tem se constituído em uma grande fonte de preocupações, na medida em que, há bastante tempo, não acompanha a dinâmica do setor. A falta de investimentos acarreta defasagem tecnológica e perda de escala – com fechamento de unidades –, impondo a necessidade de, com urgência, promover sua reestruturação.
Implantado durante a década de 1970, com o início de operações da Central de Matérias Primas (Copene) em junho de 1978, o Polo começou sob o modelo tripartite, reunindo, em cada projeto, capitais estatal, nacional e estrangeiro, sob a liderança da Petrobras/Petroquisa.
Constituída em 1980, a Nordeste Química S/A (Norquisa), consolidou as ações ordinárias que 17 empresas do Complexo detinham na Copene (47,19%), passando a compartilhar a gestão com a Petroquisa (48,16%). Em 1995, com o leilão das ações da Petroquisa, a Norquisa assumiu o controle da Copene. Em 2002, a partir da integração de seis empresas do Polo, sendo uma delas a Copene, foi criada a Braskem, sob controle da Odebrecht, mantida a participação significativa da Petrobras.
Ao contrário do que se poderia esperar, a partir daí, a Braskem ganhou o mundo e esqueceu-se de suas origens. Marcus Alban, em artigo publicado à época, vaticinou este caminho, em prejuízo das economias baiana e nordestina.
Hoje, em meio às notícias sobre a venda do controle acionário da Braskem, reconhecendo que a Bahia é o berço da empresa, seu atual presidente, em entrevista periódica para apresentação de resultados financeiros, anunciou o propósito de voltar-se, finalmente, para as unidades do Polo de Camaçari, visando o desenvolvimento aqui de um projeto verde, como já aconteceu no polo do Rio Grande do Sul.
Embora o plano ainda não esteja aprovado, as unidades na Tailândia e, no Brasil, a da Bahia, estariam contempladas, incluindo a substituição parcial da matéria-prima, ampliando o uso do gás. A realização de novos investimentos ocorre normalmente, independente e em paralelo à discutida transferência do controle acionário, mas, até agora, nunca havia contemplado as instalações da Bahia.
Nesse contexto, a utilização de matérias primas vegetais pode ser uma forma de modernizar a produção e reduzir a dependência de fontes fósseis. Neste sentido são cogitados o etanol de milho (há duas plantas em implantação no Oeste baiano) e de agave, objeto de pesquisa pelo Cimatec, no sertão baiano.
Com isto, renasce a esperança de que o Polo Petroquímico de Camaçari possa retomar o seu curso, passando por significativa modernização.
Não custa relembrar que a implantação do Complexo Petroquímico do Nordeste decorreu de uma intensa luta pela desconcentração territorial da indústria nacional, objetivo que foi esquecido ao longo das diversas mudanças havidas na governança do Complexo.
Nem por isto, a Bahia e o Nordeste devem negligenciar a necessidade de um trabalho persistente para resgatar o conceito inicial e, com resiliência e determinação, retomar a saga dos anos 1970.
Neste sentido, é alvissareira a informação dada pelo presidente da Braskem – pelo fato de a empresa concentrar o maior conjunto de unidades do Polo, inclusive sua central de matérias-primas –, mas não é suficiente.
Faz-se indispensável a participação ativa da Petrobras – que é sócia relevante da Braskem – para assegurar a aprovação do plano de investimentos e, sobretudo, sua implementação, zelando pela valorização deste seu ativo.
Indispensável também mobilizar outros agentes para agregar forças que, em conjunto, sejam capazes de promover o reerguimento do Complexo Petroquímico do Nordeste.
Destaque-se, nesse ínterim, a chegada da Basf, com o seu complexo acrílico e a sua experiência na contínua reestruturação do complexo petroquímico de Ludwishaffen, na Alemanha. Mais recentemente, também a Unipar implantou, em Camaçari, a primeira unidade greenfield do grupo.
Do mesmo modo, a Bahia conta hoje com a presença de um polo tecnológico – o que não existia nos anos 1970 – representado pelo Senai Cimatec, uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), com mais de duas décadas de experiência e crescimento, estruturando um dos mais importantes centros de PD&I do país.
Neste momento, a crise mundial que afeta o setor não deve servir de desculpas para cruzar os braços, porque aconteceria o pior. Retomo aqui o que propus em artigo anterior:
Já é passada a hora de uma grande mobilização, com o governo do Estado, em articulação local com a Fieb e o Cofic, e nacional, com o Mdic, Bndes e Finep, outra vez sob a liderança executiva da Petrobras, para reestruturar o Complexo Petroquímico do Nordeste, ao abrigo da política nacional de neoindustrialização, resgatando e atualizando este que é um dos esteios da indústria nacional.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.