O agronegócio brasileiro, já afetado pela sobretaxa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teme novas retaliações voltadas a um de seus pontos mais sensíveis: os fertilizantes.
Segundo a Folha de São Paulo, representantes do setor, incluindo empresas e membros da bancada ruralista, alertaram o Itamaraty sobre o risco de sanções a partir de sexta-feira (8) em razão das negociações com a Rússia, principal fornecedora do insumo ao Brasil. O país também está na mira por importar diesel russo — responsável por mais de 60% do total adquirido neste ano.
A Frente Parlamentar Agropecuária não se pronunciou, mas o clima é de apreensão. Em 14 de julho, Trump afirmou que, caso não haja acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, os EUA aplicarão “tarifas secundárias de 100%” contra países que continuarem comprando exportações russas, como petróleo, gás, urânio e fertilizantes. A medida, segundo o secretário Internacional do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, funcionaria como pressão indireta.
Trump disse nesta terça-feira (5) que só decidirá sobre a tarifa ao petróleo após reunião com autoridades russas nesta quarta-feira (6). “Nunca disse uma porcentagem, mas deve ser algo próximo disso”, declarou. No caso brasileiro, a retaliação não incidiria diretamente sobre fertilizantes, mas sobre outros produtos exportados para os EUA.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, alertou para o risco de proibição de compras. “A posição dos Estados Unidos que foi dada à Rússia foi que, se ela não resolvesse o problema da guerra, eles iriam abrir retaliações que envolveriam quem compra produtos da Rússia. E nós compramos petróleo e fertilizantes, que são muito sensíveis ao agronegócio”, disse.
O Brasil responde por 8% do consumo global de fertilizantes e importa mais de 90% do que utiliza. A Rússia é responsável por 30% desse volume, à frente de China, Canadá e EUA. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) indicam que 2025 pode bater recorde: no primeiro semestre, o país comprou 5,71 milhões de toneladas de fertilizantes russos, ao custo de US$ 1,98 bilhão.
Na última década, a dependência aumentou: de 3,7 milhões de toneladas em 2015 para 12,5 milhões em 2024. O diesel russo é hoje o segundo produto mais importado pelo Brasil, atrás apenas dos fertilizantes.
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil