sexta, 25 de julho de 2025
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ARMANDO AVENA –  IF BRAZIL DOESN’T RETALIATE, YOU’RE FIRED

Redação - 24/07/2025 05:00

Faltando oito dias para que as tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras entrem em vigor, o Brasil precisa se posicionar. Quem conhece o estilo de Donald Trump sabe que ele volta atrás, mas gosta de negociar com homens que mostrem capacidade de enfrentá-lo. Foi assim nos embates tarifários com Canadá, México e União Europeia, nos quais Trump só retrocedeu ou suspendeu tarifas após esses países ameaçarem com medidas retaliatórias e/ou demonstrarem resistência firme.

O presidente dos Estados Unidos ainda age, em alguma medida, como  apresentador do “The Apprentice”, no qual demonstrava respeito por participantes que mostravam personalidade forte e que eram capazes de enfrentá-lo, com respeito, mas também com firmeza, desde que o fizessem com segurança, argumentos e postura de liderança. Ao contrário, quando alguém agia com indecisão, covardia ou incompetência, ele bradava com visível satisfação: “You’re fired!”

O governo brasileiro, por enquanto, está no segundo grupo. Ainda acredita que a pressão de empresários americanos prejudicados com a medida possa fazer refluir o tarifaço. É improvável, não só porque esses empresários têm medo de enfrentar Trump, mas também porque alguns deles, como os produtores de carne, apoiam a medida. Além disso, o governo americano sequer se dignou a responder às duas cartas encaminhadas pela diplomacia brasileira, e Trump tem interesse em aumentar sua receita com as tarifas. Para completar, o impacto dos aumentos no mercado americano será localizado.

Por tudo isso, o Brasil precisa mudar sua forma de negociação e ameaçar com alguma retaliação — mas não de forma simplista, taxando os mesmos produtos, e sim de forma cirúrgica, com as chamadas retaliações cruzadas na propriedade intelectual, inclusive com a suspensão de algumas patentes. O Brasil precisa colocar essa hipótese na mesa para despertar os setores poderosos, os únicos que podem pressionar Trump. A ameaça de suspensão temporária de algumas patentes americanas, permitida pela Lei de Reciprocidade, afetaria setores como o farmacêutico, o tecnológico e o biotecnológico, onde os EUA detêm grande número de patentes. O mercado brasileiro é um dos maiores do mundo, e a medida abriria um precedente e, no setor farmacêutico, por exemplo, poderia atingir gigantes como a Pfizer, Johnson & Johnson, Eli Lilly, Merck e outras. Essa retaliação cruzada, prevista na OMC – Organização Mundial do Comércio, foi usada em 2009 como ameaça caso os EUA não tirassem os subsídios ilegais ao algodão e deu certo.

Essa ação precisaria ser implementada de forma racional, através de uma negociação interna no âmbito diplomático e não via mídia, com tempo adequado para permitir negociações.

Outro alvo óbvio seriam as big techs, Google, Apple, Amazon, Meta, Microsoft e outras, todas com enorme influência junto ao presidente americano. A implementação de um imposto sobre serviços digitais, semelhante à Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), seria um exemplo. Seguiria o caminho da França, que criou um imposto de 3% sobre o faturamento digital no país, e de outros países como Itália, Espanha e Reino Unido. Uma ou duas medidas nessa área fariam Trump sair de sua zona de conforto. E abriria espaço para uma negociação diplomática mais ampla e até para algum contato telefônico entre Lula e o presidente americano.

A ação, que deve ser limitada a alguns setores e produtos, pode ter consequências jurídicas e diplomáticas, e há o risco de o governo americano dobrar a aposta, embora isso não tenha acontecido até aqui,  nem mesmo com a China. É uma aposta arriscada, mas esse é o mundo do Maga, e o Brasil precisa dar algum tipo de resposta como fizeram Canadá, México e União Europeia. Se aceitar a imposição de tarifas extorsivas de 50% sem uma resposta a altura,  estará se posicionando como um país de segunda classe.  E ouvirá Donald Trump dizer com satisfação: “You’re fired!”

AS TARIFAS E O NORDESTE

 Os dois estados do Nordeste que serão mais prejudicados com a tarifa de 50% imposta pelo governo americano são o Ceará e Sergipe. Quase metade das exportações cearenses vão para os Estados Unidos e Sergipe envia 17% de suas vendas externas para lá. A Bahia exporta apenas 7,4%, com vendas muito muito concentradas no setor industrial. Produtos petroquímicos, papel e celulose e pneus respondem por 60% das exportações baianas para os EUA. Derivados de cacau, frutas , metalúrgicos e petróleo também são significativos.

Publicado no jornal A Tarde em 24/07/2025

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