A imposição pelo presidente Donald Trump de uma tarifa de 50% para todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos causará, se for confirmada, um impacto significativo na Bahia, que tem uma economia tradicionalmente vinculada ao comércio exterior. Embora a China seja nosso principal parceiro comercial, comprando quase 30% das nossas exportações, os Estados Unidos são o 3º maior parceiro, destino de 8,3% das vendas externas no 1º semestre de 2025.
O que a Bahia exporta para os Estados Unidos? Basicamente, Papel e Celulose, Químicos e Petroquímicos, Pneus, Metalúrgicos, Cacau, Frutas, Têxteis e Petróleo, que juntos representam mais 90% das nossas exportações para o país americano. No global, segundo estimativas da SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais, o impacto da tarifação seria uma redução de US$ 643,5 milhões nas exportações baianas para os EUA, o que representaria 5,4% de redução no valor global das exportações.
Parece pouco, mas não é, uma vez que o impacto atinge setores importantes, a exemplo da petroquímica, que já vem atravessando um momento de crise, tem forte vinculação com o mercado americano e participação de quase 40% na pauta exportadora para os EUA. Outro setor afetado será o de papel e celulose, que em 2024 exportou US$ 223 milhões para os EUA. Se a imposição de tarifa se confirmar, esses setores terão de reestruturar sua cadeia de comércio e buscar novos parceiros comerciais, o mesmo ocorrendo com produtores de cacau, pneus, café, frutas e outros.
Além das perdas diretas, haverá também impacto nos investimentos. Os investidores americanos que atuam ou pretendem atuar na Bahia, em setores como energia renovável, químico, farmacêutico, agronegócio, logística e equipamentos e outros, podem rever planos por conta do maior custo para importar máquinas, insumos e equipamentos dos EUA, e por conta dos efeitos na cotação do dólar.
Por fim, a maneira como o governo brasileiro vai enfrentar o problema também é fundamental para a Bahia. Isso porque se o governo brasileiro estabelecer tarifas recíprocas, os impactos na economia baiana serão muito maiores. Os Estados Unidos são o maior importador de produtos para a Bahia, representando 27% de tudo que o estado compra no exterior.
A Bahia compra dos Estados Unidos matéria-prima para a indústria química e petroquímica, máquinas, insumos para o agronegócio, mineração e construção civil; equipamentos elétricos e eletrônicos de grande porte; partes e peças para manutenção de indústrias; produtos farmacêuticos e hospitalares e muitos outros. Grande parte dessas importações se destina ao Polo Petroquímico de Camaçari e à indústria pesada e, se forem taxadas, haverá aumento no custo da produção.
OS SUBSÍDIOS E O NORDESTE
O governo federal vai deixar de arrecadar R$ 543,7 bilhões em 2025 com a concessão de benefícios tributários a empresas e pessoas físicas. Se esse montante fosse arrecadado, não seria necessário aumentar o IOF e o Brasil teria superávit nas contas públicas. As renúncias estimadas representam quase 5% do PIB. A maior parte desses subsídios vai para o Simples, o sistema tributário para micro e pequenas empresas, e para o agronegócio e ambos geram muito emprego e renda. Na hora de cortar, é preciso cortar seletivamente, lembrando que as regiões Sul e Sudeste se apropriam de 75% das isenções, cabendo ao Nordeste apenas 10% a 12%. Os dados são do Tribunal de Contas da União.
QUE VENHAM LOS HERMANOS
Com valorização do peso, os argentinos estão invadindo o Brasil e a Bahia precisa agir para potencializar a vinda dos “hermanos”. A Bahia é , para eles, um diferencial turístico em relação aos tradicionais destinos da região Sul. Por isso, governo do Estado e prefeitura de Salvador precisam fazer campanhas para divulgar o destino Bahia em terras argentinas, especialmente em Buenos Aires e nas grandes cidades. E o trade turístico também precisa se mobilizar, oferecendo eventos e promoções. O Brasil recebeu quase 2 milhões de turistas argentinos em 2024 e a Bahia pode participar, em 2025, com 10% desse total. Mas é preciso batalhar por isso.