quarta, 16 de julho de 2025
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NO BRASIL, QUANDO A DIREITA VAI BEM, A DIREITA ATACA A DIREITA

Redação - 14/07/2025 08:59 - Atualizado 14/07/2025

Que o Brasil não é para amadores, a gente já sabe. Mas a investida política disfarçada de tarifa que Donald Trump fez contra o Brasil foi uma demonstração de quanto as coisas no Brasil caminham de forma equivocada.

A direita brasileira estava atravessando um dos seus melhores momentos na história republicana brasileira, com um pacote de críticas ao governo Lula que, no bojo da inflação renitente, foram bem recebidas pela população brasileira, a ponto de o presidente Lula apresentar uma queda substancial na sua popularidade.

Nesse cenário, fortalecia-se a cada dia o nome do governador de São Paulo, uma liderança da direita mais moderada, como candidato à Presidência da República, que, alicerçado em alguma liderança nordestina na condição de candidato a vice, formaria uma chapa com possibilidades de vitória. E, então, como num passe de mágica, a direita ataca a direita.

Donald Trump deu cunho político ao aumento de tarifas, atacando o STF e elencando como motivo os processos que Jair Bolsonaro vem sofrendo, afirmando que isso seria uma retaliação à “caça às bruxas” contra seu aliado Jair Bolsonaro. A direita deu um tiro no pé.

O “tarifaço” de Trump não só expôs uma tentativa explícita de interferência política nos assuntos internos do Brasil, mas também desmontou uma estratégia conservadora que vinha ganhando força. Ao transformar a medida em ataque à soberania nacional, Lula mobilizou consenso em torno de valores patrióticos e nacionalistas — e tomou o discurso oposicionista bolsonarista.

Animal político, o presidente Lula reagiu com firmeza: devolveu a carta, afirmou que “o Brasil é dos brasileiros”, ameaçou com a Lei da Reciprocidade Econômica e moldou a narrativa, virando o caso em favor de seu governo e gerando um pico de apoio popular e, de tal maneira, que as redes sociais de Trump e sua esposa estão apinhadas de mensagens de apoio a Lula.

Como não há objetivo econômico, já que o Brasil tem déficit em suas relações comerciais com os EUA, o objetivo das tarifas foi apenas político e infantil, pois será impossível, sem perder a soberania, que o país suspenda os processos ou dê anistia a Jair Bolsonaro.

Como a direita brasileira pôde cair nessa arapuca que atingiu em cheio o estado de São Paulo, exatamente o governado por Tarcísio de Freitas, a maior liderança dos conservadores no Brasil?

Há duas hipóteses. A primeira delas é sustentada na ingenuidade de Eduardo Bolsonaro, o porta-voz da direita brasileira nos Estados Unidos, que passou a fazer a cabeça de deputados americanos, pedindo uma intervenção de Trump no Brasil. Querendo atingir o Supremo e anistiar seu pai, Eduardo apostou na pressão de Trump, não sabendo, ou talvez sabendo, que Trump iria impor tarifas ao Brasil.

Se a hipótese for verdadeira, impressiona a incapacidade da direita brasileira de não atuar, através de seus deputados e senadores, junto aos deputados americanos e ao próprio governo dos EUA, no sentido de indicar que medidas de pressão surtiriam efeito. Ou seja, os caciques dos partidos conservadores no Brasil deixaram que Eduardo Bolsonaro sozinho atuasse em prol, não do Brasil, mas apenas de sua família.

Há outra hipótese, no entanto, consubstanciada nas críticas constantes de Eduardo Bolsonaro à hipótese de  Tarcísio de Freitas ser o candidato da direita nas próximas eleições, e vai no sentido de ter sido uma ação pensada e com o objetivo de atingir em cheio a candidatura do governador de São Paulo, que está como barata tonta no episódio, sendo criticado por empresários, por editoriais de jornais e pelo agronegócio.

Nesse caso, a ação teria como objetivo desestabilizar qualquer candidatura de direita que não venha do núcleo familiar de Bolsonaro e mostrar que, sem Bolsonaro, não há direita no país. Pois é, ao que parece, a direita atacou a direita e fez surgir novamente em cena a figura do presidente Lula. (EP-14/07/2025)

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