A passagem de Lula pela Bahia, desfilando em carro aberto pelas ruas de Salvador, demonstrou o que todo mundo já sabe: A força eleitoral do Presidente está no Nordeste e ela será novamente determinante nas eleições presidenciais de 2026.
Na verdade, nas disputas presidenciais brasileiras, o Nordeste sempre foi o território decisivo das eleições e não será diferente em 2026. A região, que concentra cerca de 27% do eleitorado nacional, tem sido o principal pilar de sustentação eleitoral do presidente Lula desde 2002 — e continua sendo sua base mais fiel. Em 2022, esse protagonismo ficou ainda mais evidente: Lula venceu com ampla vantagem nos nove estados nordestinos, obteve 69,3% dos votos válidos na região e venceu em 98,9% dos municípios. Sem essa performance avassaladora, sua vitória nacional não teria sido possível.
Agora, faltando cerca de um ano e meio para as eleições presidenciais, enquanto o Sudeste está cada vez mais dividido, e o Sul e o Centro-Oeste tendem à direita, o Nordeste segue como um bastião petista — e Lula, mesmo com as dificuldades no governo, mantém liderança sólida por lá. Pesquisas recentes confirmam essa força: em simulações de segundo turno, Lula aparece com até 56% das intenções de voto no Nordeste, enquanto Tarcísio de Freitas, principal nome da direita, a exceção de Bolsonaro que está inelegível, não ultrapassa 29% na região.
Essa disparidade revela o principal obstáculo à viabilidade nacional de Tarcísio. Embora tenha vencido as eleições em São Paulo e seja o nome mais cotado da direita para suceder a Bolsonaro, Tarcísio ainda não é um político conhecido fora do Sudeste. Seu nome é fortemente atrelado ao bolsonarismo paulista, e suas pautas têm pouca ressonância no Nordeste, onde a memória de políticas sociais — como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e programas educacionais — continua influente.
Em termos práticos, Tarcísio enfrenta um dilema: o Sudeste sozinho não elege ninguém. Mesmo que vença em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, precisará compensar essa vantagem em outras regiões — especialmente no Nordeste, que historicamente define as eleições. O fracasso de Bolsonaro na região, que teve apenas 30,7% dos votos válidos em 2022, mostra o quão difícil é romper essa barreira.
Tarcísio de Freitas precisa começar a olhar para o Nordeste, pois aí sua fraqueza é estrutural, não circunstancial. Ele não tem vínculos históricos com a região, não possui uma narrativa capaz de dialogar com o eleitorado nordestino e ainda carrega a rejeição herdada do bolsonarismo — que frequentemente foi associado a declarações preconceituosas contra o Nordeste. Para ser competitivo, ele precisaria não apenas melhorar sua imagem, mas também desenvolver um discurso e propostas que ecoem junto à realidade social da região.
Enquanto isso, Lula continua sendo visto como um filho da terra. Nascido no Sertão de Pernambuco e associado à ascensão social de milhões de nordestinos durante seus governos anteriores, ele segue sendo o nome mais enraizado politicamente na região. Mesmo que enfrente desgaste em outras partes do país, sua vantagem no Nordeste garante musculatura eleitoral para continuar competitivo em 2026.
Hoje as perspectivas eleitorais são semelhantes a 2022: Lula é imbatível porque o Nordeste permanece fiel; Tarcísio só será viável se conseguir penetrar politicamente na região. Até lá, qualquer empate técnico nas pesquisas nacionais esconde um desequilíbrio regional profundo — e o verdadeiro campo de batalha continua sendo o território onde tudo começou para Lula: o Nordeste. (EP- 07/06/2025)
FOTO: Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)