Pressionada pelo excesso de oferta no mercado global, custos elevados de matérias-primas e importações crescentes, a indústria química e petroquímica brasileira já suspendeu ou encerrou linhas de produção e há risco de uma onda mais forte de fechamento de fábricas. O Polo de Camaçari também enfrenta dificuldades e há empresas encerrando a linha de produção (veja aqui)/
“Preocupa bastante ver clientes parando plantas. É a pior situação que a gente tem”, comentou o vice-presidente de negócios América do Sul da Braskem, Stefan Lepecki, em reportagem do Valor Econômico. A Braskem não interrompeu produção em nenhuma linha até agora, mas vê esse início de processo de desmonte, a partir da segunda geração da indústria, como fonte de pressão sobre suas operações.
A crise atinge toda a indústria petroquímica seja em Paulínia (SP) ou em Camaçari. A Unigel, por exemplo, luta para superar uma grave crise financeira, e a fábrica de acrílicos de Camaçari (BA) e teve a produção suspensa por causa da impossibilidade de concorrer em custos com o produto importado. As perspectivas de retomar em 2025 as operações foram adiadas para 2028.
“Seguimos operando com foco nos produtos estireno, poliestireno, látex e no cianeto de sódio, enquanto as plantas de acrilonitrila e metacrilatos estão hibernadas de forma estratégica, aguardando o ciclo do mercado para avaliar a retomada. Enquanto isso, estamos investindo na planta de ácido sulfúrico, que tem operação prevista para janeiro de 2026”, disse o CEO da Unigel, Dario Gaeta.
O problema é que a estrutura de custos da indústria petroquímica baseado em nafta petroquímica é mais cara que o gás natural. Menos competitivos que os rivais asiáticos e americanos, brasileiros e também os europeus estão em crise.
Hoje, enquanto nos Estados Unidos o gás natural custa entre US$ 2 e US$ 3 o milhão de BTU, o preço da molécula do Brasil varia entre US$ 12 e US$ 14.
O início de operação de novas centrais e fábricas na China e nos Estados Unidos, após a pandemia, e a desaceleração da economia global levaram ao desequilíbrio entre oferta e demanda dos principais químicos e petroquímicos, derrubando preços. Estima-se que a produção global de eteno, usado na produção de polietileno (PE) e PVC, entre outros, tenha sido elevada em cerca de 20% em poucos anos.
“Toda a produção está migrando para a China. A Europa não adotou medidas em tempo e sua indústria química está quebrando. Nós somos a Europa amanhã. Há risco de mais fechamentos no Brasil”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos Cordeiro.
O setor vem assistindo a um salto nas importações, que já representam cerca de 50% da demanda doméstica, e perdeu participação no mercado internacional. Em 2024, a diferença entre importações e exportações chegou a US$ 48,7 bilhões (déficit comercial), e reduziu o nível de ocupação do parque fabril local.
No primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Abiquim, a taxa de utilização média ficou em apenas 62%, bem distante dos 80% a 85% mínimos requeridos por uma indústria de processo contínuo e capital intensivo. “Nunca na história se importou tanto.
O setor recorreu ao governo federal para conter o que chamou de “surto de importações”, e foi parcialmente atendido: 30 produtos foram incluídos na lista transitória da Tarifa Externa Comum (TEC), elevando de 7,6% a 12,6% para 20% o imposto de importação – sem reverter a tendência de queda dos preços, o que é temido por clientes do setor. Além disso, o Regime Especial da Indústria Química (Reiq) passou a conceder benefício adicional a empresas que investirem em expansão.
Com a reforma tributária, o Reiq acabará em 2027, uma vez que desonera tributos que deixam de existir, PIS e Cofins. Correndo contra o tempo, a indústria tenta acelerar a aprovação de um novo programa, o Presiq (Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química). Previsto no projeto de lei 892/2025, que tramita na Câmara, o Presiq promoveria a reindustrialização do setor, segundo os executivos ouvidos. “É preciso acelerar (a votação)”, comentou o presidente da Abiquim.
Em outra frente, produtores instalados no país intensificaram os pedidos de investigação de dumping. Produtoras de PVC, Braskem e Unipar pediram em 2024 a elevação de tarifas antidumping para a resina com origem nos Estados Unidos. Com a prática confirmada, as alíquotas subiram de 8,2% para 43,7% em maio deste ano. Com informações do Valor Econômico.