sexta, 27 de junho de 2025
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ARMANDO AVENA – OS DEMÔNIOS DO SÉCULO XXI

Redação - 27/06/2025 09:40 - Atualizado 27/06/2025

Se Ariel, o espírito aprisionado por Próspero, visse o que se passa na terceira década do século XXI, diria novamente: “O Inferno está vazio e todos os demônios estão aqui”.

O mundo vive um tempo de desordem, polarização e crises — ambientais, políticas, éticas — e já não há estadistas que possam enfrentar os novos tempos, com visão, coragem e valores, mas apenas demônios, interessados em poder e dinheiro, não importa a que custo, e na manutenção dos seus cargos e privilégios.

No século XX, mesmo quando os tempos eram sombrios, os líderes não eram movidos pelo poder a qualquer preço, havia neles a grandeza, a coragem e o espírito público de quem almeja um papel de destaque na história.

Como não lembrar de Winston Churchill que, apesar de suas posições conservadoras, entendeu a importância da liberdade e foi a voz da resistência contra o nazismo; ou de Mahatma Gandhi, que libertou a Índia sem usar uma arma, sustentado apenas pela força de sua fé e de sua ética. E de Nelson Mandela que, após 27 anos de prisão, escolheu o perdão em vez da vingança, unindo a África do Sul sob a promessa de reconciliação.

Mesmo líderes controversos, como Margaret Thatcher, de direita, ou François Mitterrand, de esquerda, tinham um traço em comum: acreditavam em ideias, defendiam projetos de sociedade, não agiam ao sabor dos seus interesses. Tinham raízes ideológicas, goste-se delas ou não, e ideias moldadas por valores.

Hoje não há valores, não há ideias, os demônios tomaram o poder em toda parte e eles mudam de opinião ao sabor da política, dos seus interesses mesquinhos e das pesquisas de opinião.

A guerra entre Israel e Irã mostrou a pequenez desses demônios. O “shed” israelense que precisa da guerra para se manter no poder; o “sheytân” iraniano, matador de mulheres, que cultiva armas nucleares para se manter no poder; e um “pathetic demon”, líder da maior potência do mundo, que negocia a honra e os valores, como se fossem moedas. Poucas vezes se viu algo tão patético quanto a guerra combinada, na qual os Estados Unidos avisaram antecipadamente ao Irã que iriam atacar suas fortalezas nucleares e o Irã fez o mesmo no ataque à base americana.

Tudo isso, sob o olhar belicoso do “shed” israelense, que comparou o sacrifício do povo de Israel, que teve seus filhos mortos e sequestrados pelos terroristas do Hamas, ao sacrifício de sua família, que teve de adiar o casamento do seu filho.

O glorioso povo de Israel, que teve líderes como Ben-Gurion e Yitzhak Rabin, pode até unir-se na guerra, como é devido, mas não merece ser liderado por Satan. O histórico povo persa não merece a ditadura cruel dos aiatolás, nem os americanos fazem jus ao “clownish devil”, que se intitula Rei da América. Não há estadistas no século XXI, as grandes nações foram entregues a homens apequenados, demônios risíveis, desejosos de poder.

Publicado no jornal A Tarde em 27/06/2025

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