quinta, 26 de junho de 2025
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ARMANDO AVENA – SELIC A 15%: QUEM JÁ TEM DINHEIRO, VAI GANHAR MAIS

Redação - 26/06/2025 05:00 - Atualizado 26/06/2025

Este artigo é para mostrar ao leitor que, se ele tem dinheiro aplicado, vai ganhar mais ainda com a política de juros no Brasil. O Banco Central elevou a taxa Selic para 15% ao ano e, com isso, o Brasil já tem a maior taxa de juros real do mundo, em torno de 10,5%, maior que a da Rússia e da Argentina. Essa taxa é absurda para um país cuja inflação, em 12 meses, está em torno de 4%.

Quando a inflação americana atingiu o pico de 9%, o Banco Central de lá também aumentou os juros reais, mas para cerca de 2%, cinco vezes menos. A questão fiscal no Brasil merece cuidados, mas não explica esse nível estratosférico de juros. O déficit primário nas contas públicas em 2024 foi de R$ 11 bilhões, ou seja, quase zero. Sim, dezenas de “posts” na internet dirão que esse déficit foi maquiado, que o Brasil está à beira de uma crise fiscal, mas isso é política, não é economia. A economia diz que, se as medidas adotadas recentemente forem aprovadas, o déficit fiscal em 2025 e 2026 estará controlado. Isso, claro, se o governo não resolver desembestar nos gastos no ano eleitoral.

Os juros chegaram a 15% ao ano porque, no Brasil, o Banco Central trabalha com a ótica do mercado financeiro e, não importa quem seja seu presidente, os juros serão sempre mais altos que o necessário. E, vale lembrar,  ao fim do mandato, seus ex-presidentes estarão trabalhando nos bancos e fundos de investimento.

Juros reais a 10% ao ano vão inibir fortemente o consumo e o investimento e vão travar a economia brasileira, afetando fortemente a indústria, o comércio e a construção civil, especialmente se, como diz a ata do Banco Central, se mantiverem por longo tempo.

Juros reais a 10% é o fim do mundo para a atividade produtiva. Afinal, quem vai tomar dinheiro a esse custo para produzir e gerar emprego? É melhor aplicar no mercado de renda fixa.

E, já que este é o cenário, vale lembrar ao leitor que, se ele tem recursos para aplicar, deve fugir da Bolsa, que é mercado produtivo, e jogar “seu dinheirinho” em Tesouro Direto, LCA e LCI, debêntures incentivadas, CDBs e outros, de acordo com as seguintes orientações: LCI/LCA são isentas de Imposto de Renda e imbatíveis a partir de 90% do CDI (o imposto de 5% só vai valer para novas aplicações a partir de 2026).

Comparadas com as LCA/LCI, a aplicação em CDB só vale a pena se for acima de 120% do CDI ou tiver prazo longo, para o IR cair para 15%. Já com LCI ou LCA, qualquer valor acima de 85% do CDI já começa a valer mais a pena que um CDB de 100%. Tesouro Direto ainda é boa opção, com rentabilidade e segurança, embora com IR.

E, atenção, não aceite tudo que o seu gerente oferecer. Veja o emissor dos papéis, a taxa de administração e, a depender da expectativa, se são melhores aplicações prefixadas (afinal, os juros vão cair um dia) ou pós-fixadas. Para valores elevados, as opções são muito maiores e diversificadas e aí vale a pena ter um consultor financeiro.

No mais, este é o nosso país, que, ainda hoje, privilegia o mercado financeiro em detrimento do mercado produtivo.

GASTOS COM O SÃO JOÃO

 O São João entrou definitivamente no calendário de eventos econômicos da Bahia. Estima-se que a movimentação financeira gerada foi da ordem de 3 bilhões, o que representa mais de 40% do total gerado na região Nordeste. Salvador tornou-se um pólo de atração de turistas e isso deve se ampliar nos próximos anos. Mas os gastos com a contratação de atrações para os festejos juninos em 2025 extrapolaram os limites do bom senso. Entre os 10 municípios que mais gastaram, o valor gasto variou entre R$ 4,5 milhões e R$ 9,2 milhões. Em sete desses municípios, o montante gasto foi superior a 20% do total gasto em saúde em 2024, chegando até a 50%. Os dados são do portal da transparência.

LEILÃO DA SALVADOR/FEIRA

 Continuo a perguntar por que a concessão da BR-324 precisa ser feita acoplada à da BR-116. Salvador/Feira é a única saída da maior capital do Nordeste em direção ao Sul e Sudeste do país e poderia ser uma rodovia exemplar se fossem leiloados apenas os seus 114 km. Um tecnocrata dirá que, num leilão, a BR-324 torna mais competitiva a BR-116. Não sei, e não existe um estudo sério sobre o assunto. E, mesmo que fosse, não faz sentido submeter a população da 4ª maior capital do país a um projeto menos eficiente, com o objetivo de tornar rentável uma concessão. Se a Salvador/Feira fosse leiloada como trecho único, as maiores empresas do mundo estariam interessadas.

Publicado no jornal A Tarde em 26/06/2025

 

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