Já tinha Enfermagem, Psicologia e Fisioterapia. Faltava o tão esperado curso de Medicina. A Faculdade Sírio-Libanês abriu as portas em 2023 e, agora em 2025, conseguiu a autorização do Ministério da Educação (MEC) para Biomedicina e Medicina. Para este último, a mensalidade vai custar R$12,4 mil e as inscrições para o vestibular estão abertas até o dia 11 de junho.
A convite do Sírio-Libanês, o CORREIO visitou o prédio número 851 da Rua Martiniano de Carvalho, em São Paulo, que vai receber os 50 alunos do curso. A Faculdade ocupa 13 andares do edifício, sendo quatro deles com laboratórios altamente tecnológicos, que imitam espaços de atendimento do Hospital Sírio-Libanês e possuem bonecos simuladores de sinais vitais de até R$1,2 milhão.
O Hospital funciona desde 1921 e é reconhecido como um dos melhores do mundo. As expectativas estão lá em cima e os responsáveis pelo novo curso estão prometendo atendê-las. “Diante de tantos cursos de medicina no país, nosso objetivo é a melhoria do ensino para a formação médica no Brasil. Queremos ofertar um ensino de altíssimo padrão de qualidade, com foco no sistema privado e no SUS, e ser um modelo de inspiração para outras faculdades”, diz o diretor de pesquisa do Sírio-Libanês, Luiz Fernando Lima Reis.
Crédito: Divulgação/Sírio-Libanês
Roberto Kalil, cardiologista do Hospital, destaca que ofertar residências e cursos de pós-graduação não era suficiente e foi preciso ofertar a formação de base. Ele preside o conselho de profissionais da área que irá supervisionar o novo curso. “Não vamos deixar a Faculdade fugir de uma coisa central: tem que formar médico e médico tem que saber cuidar do ser humano. Não é cuidar da doença nem do doente. Parece bobo, mas é bem profundo”, defende.
Outros diferenciais para alcançar a qualidade desejada são: manter o aluno no centro do processo de aprendizagem e fazer a melhor aplicação das novas tecnologias disponíveis. Para o coordenador da graduação de Medicina da Faculdade, Christian Morinaga, a Inteligência Artificial caminha para ter, em breve, uso popularizado na área de saúde e diz que o cenário foi levado em consideração no processo de preparação do curso.
“Essa parte de tecnologia é muito importante para o curso, o aluno tem que ter contato com a IA, saber como funciona. Um dos grandes desafios, inclusive, é ensinar os alunos a usar a tecnologia de forma sábia”, destaca o coordenador. O oncologista do Sírio-Labanês Rodrigo Munhoz concorda. “É fundamental que a Faculdade esteja pronta para o mundo novo que se abre para a gente hoje. O uso de IA mudou completamente a história da medicina e a forma de fazer medicina”, complementa.
Enquanto Rodrigo Munhoz destaca o uso de IA para obtenção de diagnóstico mais preciso e mais rápido, o ortopedista Bruno Rudelli, também do Hospital Sírio-Libanês, destaca o uso em cirurgias. “O uso é uma realidade e os alunos devem ser preparados para lidar com isso quando forem profissionais. Além de poder ser excelente para fins de treinamento, como as cirurgias simuladas por realidade virtual, que vão passando mais segurança para o aluno e evitam erros no futuro”, diz o ortopedista.
A descrição do curso garante que a grade curricular integra teoria e prática desde o primeiro semestre. Entre os 13 andares ocupados pela Faculdade, alguns chamam a atenção. No primeiro espaço visitado, é simulado um leito do Hospital Sírio-Libanês, com móveis e cama hospitalar reais. É lá que está o SimMan 3G PLUS, um simulador de paciente para casos complexos.
Crédito: Divulgação/Sírio-Libanês
As articulações do boneco permitem o manejo e aparelhos tradicionais conseguem medir pressão arterial e níveis de saturação de oxigênio, por exemplo. Também é possível injetar medicamentos e realizar desfibrilação. A gerente de ensino da instituição, Denise Greff Machado, conta que o simulador também permite treinamentos emocionais importantes para casos de erro ou morte do paciente e que alguns alunos choram diante dessas situações com o boneco.
No espaço que simula uma maternidade, um boneco que representa um bebê prematuro, dentro de uma incubadora, impressiona. O tamanho, o peso e a textura são realistas. Em um dos laboratórios, a textura de peças que representam um antebraço, com saliências que imitam as veias, é fundamental para o treinamento de coleta de sangue. Mas a surpresa mesmo vem quando a agulha é inserida e um líquido vermelho começa a sair.
Denise explica que as simulações são preparações para os momentos de interação real com pacientes, que só acontecem nas etapas mais avançadas do curso. Os alunos de Medicina vão poder realizar vivências no Hospital Sírio-Libanês e em unidades do SUS geridas pelo Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês. “Enquanto essa etapa não chega, os alunos fazem visitas técnicas e até mesmo as rotações clínicas, que são idas em grupo, com preceptores, até os hospitais, a partir do terceiro semestre”, conta Denise.
As aulas do curso de Medicina começam no dia 4 de agosto, com 50 alunos. São 44 vagas para o vestibular, duas vagas para quem quer ingressar com as notas do Enem de 2023 ou 2024 e quatro vagas para quem quer ingressar através de exames internacionais. A taxa custa R$250 e o caminho para a inscrição está no site faculdadesiriolibanes.org.br.
A primeira fase acontece no dia 29 de junho, com prova de oito questões discursivas e 40 questões objetivas, além da redação. A segunda etapa acontece no dia 22 de julho, com minientrevistas que avaliam diversas habilidades, nos moldes de processos seletivos de Canadá, Estados Unidos e Reino Unido. O resultado será divulgado até o dia 30 de julho.
Cinco vagas estão reservadas para a concessão de bolsas integrais a alunos com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio. Destas cinco, duas são para alunos que também se encaixem em critérios raciais e uma é para alunos que também se declare como PCD.
O diretor de ensino da Faculdade Sírio-Libanês, Liao Chieh, explica que “não faz sentido ser uma faculdade do Sírio-Libanês e não ter bolsa”. Ele ressalta que a reserva de 10% das vagas para bolsas foi uma obrigatoriedade do MEC apenas para o curso de Medicina, mas que a instituição aplica o sistema de bolsas para todos os cursos. Dos 269 atuais alunos, mais de 50 são bolsistas integrais.
Sobre o valor de R$12,4 mil da mensalidade para Medicina, Denise Greff Machado diz que a definição veio a partir de uma pesquisa de mercado e do equilíbrio entre sustentabilidade do negócio e propósito filantrópico da instituição.
“Chegamos a um preço que nos permite ter qualidade de equipamentos, investimento em tecnologia e força nas atividades práticas e, ao mesmo tempo, ofertar as bolsas. Encontramos concorrentes com valores até R$3 mil acima do que estamos aplicando e poderíamos cobrar mais, só que isso nos afastaria do propósito do Sírio-Libanês”, coloca a gerente de ensino.
O diretor de pesquisa do Sírio-Libanês, Luiz Fernando Lima Reis, acrescenta que, além dos 10% das mensalidades que são cobertos pela Faculdade, outros 10% da receita vão para investimento no SUS. “Uma das condições para o processo de autorização do curso pelo MEC é que a gente tenha disponibilidade de cinco leitos de SUS para cada vaga ofertada”, finaliza.
Crédito: Divulgação/Sírio-Libanês