sexta, 30 de maio de 2025
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EUA X CHINA: TARIFAS REACENDEM GUERRA COMERCIAL E DESAFIAM MERCADOS GLOBAIS

VICTOR OLIVEIRA - 29/05/2025 16:45 - Atualizado 29/05/2025

O aumento das tarifas de importação anunciadas desde o começo do ano pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já provoca efeitos nas principais economias globais. A decisão, que intensifica a guerra comercial com a China, representa um choque negativo tanto para a oferta americana quanto para a demanda chinesa, com reflexos imediatos no crescimento econômico, inflação e no comportamento dos mercados.

De acordo com Homero Guizzo, economista-chefe da Terra Investimentos, a medida representa um duplo choque econômico. “O crescimento de ambas as economias será menor. No entanto, os efeitos tendem a ser mais duradouros para os americanos. O fluxo de comércio cairá e será redirecionado”, afirma. Segundo ele, os Estados Unidos continuarão integrados às cadeias de valor, mas a um custo mais alto, o que deverá pressionar a inflação.

Nesse cenário, o Federal Reserve enfrentará desafios adicionais na política monetária, ao precisar distinguir entre os efeitos primários e secundários do tarifaço. Já na China, a expectativa é de queda na inflação e de maior estímulo à atividade econômica. “As empresas chinesas buscarão novos mercados fora dos EUA, o que tende a reduzir os preços em países emergentes como o Brasil”, explica Guizzo.

Para Marcelo Simões, head de Produtos da Terra Investimentos, o impacto já pode ser observado no comportamento de ações em setores sensíveis à guerra comercial. “O segmento de energia, especialmente óleo e gás, está entre os mais atingidos. Ações como PETR4 e RECV3 voltaram aos preços de meados de 2024 e 2023, respectivamente”, afirma. Ele acrescenta que os setores de siderurgia e mineração também enfrentam perdas relevantes, como é o caso da VALE3 e da CMIN3.

Por outro lado, Simões observa que algumas áreas permanecem resilientes. “Os bancos seguem firmes. ITUB4 e BBAS3 estão em alta, com Santander e Bradesco também apresentando valorização desde o início do ano”, diz. Apesar do cenário de instabilidade, ele vê oportunidades de investimento tanto pela alta volatilidade quanto pelos descontos em papéis sólidos.

O aumento das tarifas também altera profundamente o trabalho das equipes de análise. Régis Chinchila, head de Research da Terra Investimentos, destaca que eventos desse tipo exigem revisão das premissas macroeconômicas, maior atenção ao risco e adaptação dos modelos quantitativos. “A incerteza se intensifica e a área de research ganha papel estratégico na busca por proteção e oportunidades”, afirma. Ele ressalta ainda que, nesses contextos, estratégias de diversificação internacional passam a ser mais relevantes.

Na visão de Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital, o mercado americano vive um momento de incerteza sem precedentes. “Hoje, a incerteza é maior do que em crises como a do Covid ou a de 2008. O investidor não sabe quais tarifas serão aplicadas, quais países serão afetados e por quanto tempo”, diz. Esse ambiente tem levado a quedas nos principais índices, como S&P 500, Nasdaq 100 e Russell 2000.

Apesar disso, Nobile acredita que a pressão do mercado tende a forçar recuos por parte do governo americano. Ele cita como exemplo a suspensão temporária de tarifas sobre produtos eletrônicos e a pausa de 90 dias para países fora da China. “O impacto é grande no curto prazo, mas vemos boas oportunidades para investidores que buscam ativos de qualidade a preços atrativos”, completa.
As consequências do novo tarifaço ainda estão em evolução e esse movimento marca mais um capítulo no processo de refluxo da globalização, que pode ter efeitos duradouros no comércio e na economia mundial.

Foto: Reprodução

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