Nas últimas colunas, temos abordado a questão da inflação de alimentos, suas causas e a esperada pouca eficácia das medidas do governo para combatê-la, com foco maior no imposto de importação de um universo de alimentos , com destaque para o café, milho, azeite de oliva e outros itens. Hoje, iremos destacar 2 pontos que embasam as recomendações de alguns analistas e membros do governo, a saber, a conduta do consumidor, substituindo os alimentos mais caros por produtos mais baratos , e a adoção de um imposto de exportação na tentativa de reter uma maior proporção de alimentos no mercado interno, e a possível queda de preços desses itens para o nosso consumidor.
Comecemos pelo último ponto.
A tentação de adotar um imposto de exportação é frequentemente cogitada nesses momentos de inflação alta de alimentos e tem sido implementada em países como a Argentina. Pode até ter algum efeito num primeiro momento, mas, em seguida, o produtor rural, desestimulado e temeroso da continuidade da vigência do imposto, costuma reduzir seu plantio seguinte, impactando negativamente a safra , o abastecimento dos mercados interno e externo e a balança comercial.
Aparentemente, os defensores dessa ideia acreditam que o quociente entre a exportação e a produção interna no Brasil ostenta valores altos, com possível geração de um cenário de escassez para o abastecimento do mercado doméstico. Historicamente, esses valores no Brasil tem se mantido em um patamar entre 20% e 35%, a exemplo dos quocientes observados no açúcar, carnes de frango , de porco e bovina. No arroz, esses percentuais estão ao redor de 10%, sendo as exportações ocasionais , e no feijão não temos retrospecto de exportação regular.
No trigo, importamos uma parte para satisfazer nosso consumo interno. O milho vem ganhando destaque nas exportações dos últimos anos e os quocientes as vezes ultrapassam a casa dos 35%. No caso dos ovos, mesmo com a disparada de preços recentes em fevereiro e março, 99% da produção brasileira permanece no mercado interno. Portanto, essa hipótese de altos quocientes exportação /produção interna não parece consistente. Os valores têm se mantido mais ou menos constantes e não há registro nos últimos anos de inflação de alimentos no patamar verificado em 2024. Então, adotar esse tipo de imposto não nos parece apropriado e parece ignorar os fatores formadores de preços agrícolas no Brasil e no mundo.
Quanto ao outro ponto, que diz respeito à recomendação de substituição de alimentos mais caros por itens mais baratos, o consumidor brasileiro, especialmente os de capacidade aquisitiva mais baixa, tem adotado com certa regularidade tal conduta. Mas, cabe alertar, que, no limite, adquirir muitos alimentos mais baratos pode significar a compra de alimentos ultraprocessados, mais baratos, em média , por quilo de produto. Esse produtos não são os ais indicados pelos nutricionistas e pelos médicos.
Esses profissionais têm recomendado o o consumo de produtos mais saudáveis , naturais, frescos e integrais, muitas vezes mais caros que os itens ultraprocessados. Uma abordagem mais detalhada desse assunto pode ser encontrada em artigos de Rafael Tonon, profissional especializado na área de alimentação. A respeito, indicamos a leitura do artigo de Rafael Tonon, intitulado “Preço dita o prato? a perigosa política da escolha pelo mais barato”, na Folha de São Paulo, de 20-03-25. Vale a pena comhecer esse tipo de enfoque.
(1)Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail: jose.macielsantos@hotmail.com.