O governo Lula considera que o principal alvo dos Estados Unidos, no momento, é o etanol brasileiro. Para integrantes do Executivo, possíveis novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump tendem a não afetar significativamente outros produtos agropecuários do Brasil, como carnes e café. Essa percepção foi compartilhada por interlocutores do governo que estiveram recentemente nos EUA para reuniões com autoridades agrícolas.
A ameaça tarifária sobre o etanol é considerada iminente por integrantes do governo. Já no caso das carnes, o risco é visto como baixo, enquanto para o café, a possibilidade de sobretaxa é considerada “zero”. Há um entendimento comum entre os interlocutores de que ainda há espaço para negociação antes de qualquer resposta tarifária. “Não há sinais de intenção de sobretaxas dos Estados Unidos para além dos produtos já citados por eles — etanol, aço e alumínio —, apesar de prometerem uma revisão e estudo geral das condições de acesso aos mercados”, afirmou uma fonte familiarizada com o tema.
Os Estados Unidos foram o segundo principal destino dos produtos agropecuários brasileiros no último ano, com exportações de US$ 12,092 bilhões, representando 7,4% do total das exportações do agronegócio. Os embarques são concentrados em café verde, celulose, carne bovina in natura, suco de laranja e couro, segundo dados do sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro. No mesmo período, o Brasil importou US$ 1,028 bilhão em produtos agropecuários dos EUA.
O etanol brasileiro foi mencionado pela Casa Branca há cerca de duas semanas como um exemplo de produto sem reciprocidade tarifária. Há uma demanda antiga dos Estados Unidos para que o Brasil reduza a tarifa de importação de 18% aplicada ao etanol americano, enquanto os EUA cobram apenas 2,5% sobre o produto brasileiro.
De acordo com um interlocutor, essa pressão já era esperada e tem sido um ponto constante nas negociações com os EUA. Entre as possíveis retaliações está a adoção de tarifas recíprocas sobre o etanol de cana-de-açúcar exportado pelo Brasil, principalmente para a Califórnia, onde é utilizado no cumprimento de metas de descarbonização.
Em 2024, o Brasil exportou US$ 181,828 milhões em etanol para os Estados Unidos, com grande parte do volume destinado à Califórnia. Com isso, o país se tornou o segundo maior mercado para o biocombustível brasileiro. Já as exportações de etanol americano ao Brasil somaram US$ 50,530 milhões, segundo dados do Agrostat.
Por outro lado, carnes e café parecem estar relativamente protegidos de possíveis sobretaxas, principalmente devido ao impacto que essas medidas poderiam ter na inflação nos Estados Unidos. Uma fonte ligada ao setor afirmou que há uma preocupação significativa com a alta nos preços dos alimentos para os consumidores americanos.
O café, que é o principal produto agropecuário brasileiro exportado para os Estados Unidos, tem risco praticamente nulo de sofrer taxação adicional, segundo interlocutores do governo. O setor destaca que o café verde brasileiro representa 1,3% do PIB nacional, mas, nos EUA, seu processamento e agregação de valor são fundamentais para a indústria local. Esse mercado gera cerca de 2 milhões de empregos no país e movimenta aproximadamente US$ 340 bilhões por ano na economia americana.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil