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WALDECK ORNÉLAS –  FEIRA DE SANTANA, PORTAL DO NORDESTE

Redação - 17/02/2025 05:00

Vista de Salvador, Feira de Santana – a 92,8km da Capital (115km por via rodoviária) – é o Portal do Sertão. Vista a partir do interior é o Portal da Capital. Mas Feira de Santana precisa ser vista sob uma outra ótica: a cognominada “Princesa do Sertão” é, também, o Portal do Nordeste.

Na Bahia, Feira é a maior cidade do vasto interior, incluídos os municípios da Região Metropolitana de Salvador. No Nordeste brasileiro é, também, a maior cidade do interior, excluídas as capitais e suas regiões metropolitanas. No interior da macrorregião apenas Teresina, capital do Piauí, a supera. Nas regiões metropolitanas, apenas Jaboatão dos Guararapes, uma extensão do Recife. Feira é a 34ª cidade mais populosa do país.

Um dos principais destinos da grande migração rural-urbana do século passado, Feira era a 4ª cidade mais populosa da Bahia em 1940, subindo para a 3ª posição em 1950, e para a 2ª, já em 1960, posição que ocupa desde então, constituindo-se em uma importante centralidade urbana.

Contribui para essa importância o fato de ser o único município do Nordeste em que as duas principais rodovias longitudinais do país – as BR-116 e BR-101 – se tocam, tendo se tornado o maior entroncamento rodoviário e logístico da macrorregião. É, na prática, o único acesso rodoviário a Salvador, uma vez que a Linha Verde, que percorre todo o Litoral Norte baiano, até a divisa BA-SE, não permite o transporte de cargas. Contando com aeroporto, a cidade se ressente, ainda hoje, de sua interligação com o sistema ferroviário nacional.

O município desenvolveu também um importante parque industrial, ao abrigo dos incentivos fiscais do antigo Sistema 34/18 da SUDENE, tendo criado o Distrito Industrial do Subaé para recebê-las.

Este conjunto de características a habilita para voos mais altos. O desafio é tornar-se agora uma plataforma logística, capaz de impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento, transformando-a em uma importante região metropolitana.

A renovação antecipada da concessão da Ferrovia Centro Atlântica (FCA) – em fase final de análise pelos órgãos federais competentes – constituirá, neste sentido, um marco decisivo, uma vez que definirá o futuro da ligação ferroviária Minas-Bahia, seja administrada pela atual concessionária – que a deixou abandonada ao longo dos últimos 30 anos – seja por uma nova concessão ou autorização.

Passando a ferrovia a pequena distância, a interligação ferroviária é uma short-line de indiscutível viabilidade nessa nova era em que a logística constitui variável relevante para a redução do custo Brasil e a modernização dos transportes. Não sem razão, o ministério dos Transportes, através da INFRA, vem realizando estudos para o transporte ferroviário de passageiros entre Salvador e Feira de Santana, que necessariamente incluirá o transporte de cargas, dando-lhe acesso ferroviário ao Complexo Portuário da Baía de Todos os Santos.

A partir daí será possível – e desejável – promover a integração e operação intermodal como base para o desenvolvimento de uma importante plataforma logística de relevância nacional. A escala já existente nas atividades econômicas de Feira – como o próprio nome indica, um mercado por excelência – estabelecerá as condições para deflagrar um dinâmico processo de desenvolvimento, dando início a um novo ciclo de expansão econômica.

Não sem razão, algumas atividades portuárias e industriais da Região Metropolitana de Salvador já optaram, espontaneamente, por Feira de Santana, para a instalação de centros de distribuição e pátios de triagem, revelando uma vocação que requer apenas um projeto de desenvolvimento para tornar-se realidade.

A rescisão do contrato de uma concessão malfeita, da BR-116 (trecho Cândido Sales-Feira de Santana) em conjunto com a BR-324 (trecho Feira de Santana-Salvador), já aprovada pelo TCU, e fixada para 31 de março próximo, com nova concessão a partir de dezembro deste mesmo ano, haverá de permitir a requalificação desse importante eixo rodoviário – um dos mais carregados do país –, restabelecendo a fluidez do tráfego e, finalmente, o cumprimento de sua função econômica e social. Na agenda do ministério dos Transportes, a concessão da BR-116 – trecho Feira de Santana-Salgueiro (PE), igualmente programada para este ano, permitirá o incremento do fluxo de passageiros e cargas também nesse percurso.

Aliás, é importante salientar as múltiplas conexões rodoviárias de Feira de Santana com todos os principais polos urbanos e de produção em seu entorno, a exemplo de Aracaju (SE), do polo Juazeiro (BA/Petrolina (PE), Salgueiro (PE), Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, no Oeste baiano, Vitória da Conquista e Itabuna/Ilhéus, no sentido Sul, além de Alagoinhas e Santo Antônio de Jesus, no semianel de entorno da Região Metropolitana de Salvador.

Estabelecida a base logística, estarão criadas as condições para a retomada da industrialização, a dinamização do comércio, a incorporação da inovação tecnológica e a requalificação do ambiente urbano, tendo como resultado a geração elástica de oportunidades de trabalho e renda.

Feira de Santana está fadada a ser o Portal do Nordeste.

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.

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