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ENTREVISTA COM FÁTIMA GIOVANNA COVIELLO FERREIRA – DIRETORA DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA DA ABIQUIM

João Paulo - 17/02/2025 05:00 - Atualizado 17/02/2025

Bahia Econômica – As ameaças tarifárias do novo governo dos Estados Unidos podem prejudicar o setor químico no Brasil? Como aconteceria esse processo?

Fátima Giovanna – Os Estados Unidos possuem um importante saldo comercial em produtos químicos com o Brasil, de praticamente US$ 8 bilhões em 2024, e isso seguramente está sendo observado pelas autoridades norte-americanas.As exportações brasileiras de produtos químicos para os Estados Unidos totalizam uma média de US$ 2,4 bilhões/ano, realizadas, em importante medida, em operações intrafirmas entre empresas coligadas. De todo o modo, existem várias abordagens comerciais nas relações bilaterais comerciais, não apenas uma agenda eventualmente conflitante em tarifas. Cooperação regulatória, eliminação de barreiras técnicas e mútuo reconhecimento de padrões aduaneiros são temas que estão nas pautas bilaterais do Brasil, da Argentina e de muitos outros países com os Estados Unidos.

Bahia Econômica – Qual a expectativa para geração de empregos para setor químico do Brasil em 2025?

Fátima Giovanna – A geração de novos empregos no setor dependerá do desempenho da produção e da melhora significativa no nível de uso da capacidade instalada.Fechamos 2024 com um nível de ociosidade de quase 40%, com forte penetração de produtos importados, que chegaram a ocupar uma fatia de 50% do mercado de produtos químicos. Importante acrescentar que o setor químico não é intensivo em mão de obra, mas emprega pessoas com um nível elevado de qualificação técnica, o que também desestimula demissões. Apesar do nível de operação baixo, o segmento teve contratações positivas de 1,6% em 2024. Havendo melhora no nível de ocupação das instalações, com consequente aumento de produção e redução de importações, é possível que possamos crescer de 2 a 3%, como ocorreu em anos anteriores.

Bahia Econômica – Qual a expectativa para exportação e importação da indústria química do Brasil em 2025?

Fátima Giovanna – Nosso setor é deficitário em sua balança comercial, com déficits históricos e crescentes, tanto em valor (US$ 50 bilhões negativos) quanto em volume (65 milhões de toneladas), sendo que não há perspectiva de curto prazo para reversão desse cenário. Para uma mudança estrutural, serão necessárias ações que elevem os padrões de competitividade do Brasil, em relação aos seus principais competidores, como Estados Unidos e China, em especial no tocante aos custos relacionados às matérias-primas básicas e energia. No entanto, no curto prazo, com o aumento do uso da capacidade instalada, decorrente da inserção de alguns produtos químicos na lista transitória, é provável que consigamos reduzir o volume importado em cerca de 10%. No entanto, as grandes reduções só ocorrerão a partir de investimentos em novas unidades produtivas, como fertilizantes nitrogenados e metanol, por exemplo, mas que só se viabilizarão caso tenhamos uma política que traga competitividade às matérias-primas básicas do setor, como gás natural e a nafta petroquímica. Em relação às exportações, as mesmas ocupam uma fatia de cerca de 10-12% do volume produzido. Com a desvalorização do Real e a elevação do uso da capacidade instalada, é provável que esse percentual chegue a 15-17% em 2025, como já ocorreu em anos anteriores. Porém, esse cenário também dependerá das questões geopolíticas e de tensões relacionadas ao suprimento de petróleo no mercado internacional.

Bahia Econômica – Como o aumento no preço da gasolina anunciado pela Petrobras pode impactar a indústria química no Brasil?

Fátima Giovanna – O aumento do preço da gasolina no Brasil não tem qualquer impacto direto sobre a petroquímica.Importante pontuar também que uma pequena parcela dos produtos derivados do cracker petroquímico é gasolina. Maior preço da gasolina, ajuda. Mas é tão pouco que pouco influi.

Bahia Econômica – O Fato de a Petrobras estar com os preços defasados prejudica o setor em quais aspectos?

Fátima Giovanna – O fato de a Petrobras estar com preços de Diesel e Gasolina eventualmente abaixo do custo do produto importado não quer dizer que a Nafta (ou o Gás Natural e o Etano) estejam. As políticas de precificação e fórmulas de preços para cada um desses produtos não se “comunicam”.

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