“É a economia, estúpido!” Essa foi a bandeira que elegeu Bill Clinton em 1992 e, desde então, estabeleceu-se que a situação econômica de um país é determinante no resultado das eleições presidenciais. Pois bem, o mundo mudou, e já não é mais a economia que define o resultado eleitoral. Talvez fosse melhor dizer: “Não é mais a economia. São as redes sociais, estúpido!”
O Brasil ainda não está em processo eleitoral, mas o confronto entre os resultados econômicos atuais e a aprovação do governo Lula parece semelhante ao verificado nos EUA.
O PIB brasileiro vai fechar o ano com um crescimento de quase 3,5%; a inflação, que era de 5,8% em 2022, está em 4,8% em 2024, pouco acima do teto da meta; a taxa de desemprego é a menor da história; a renda média do trabalhador cresceu; as exportações também aumentaram; a taxa de investimento em relação ao PIB subiu; e o déficit primário foi de 0,1%, menor que o previsto no arcabouço fiscal.
Não estamos no melhor dos mundos, afinal, a cotação do dólar oscilou muito, a taxa de juros subiu exageradamente e o preço dos alimentos aumentou mais que a inflação oficial. Mas, no cômputo geral, os indicadores econômicos em 2024 foram bons. No entanto, a aprovação do governo Lula continua em queda e está em 39%, a mesma com que Biden deixou o governo. A explicação? “Não é mais a economia, são as redes sociais, estúpido!”
Pois é, no mundo de hoje, não adianta ter índices econômicos positivos. É preciso fazer com que essa realidade viralize nas redes sociais. Como essas redes e parte da imprensa pautam a economia pelo lado negativo, é possível ver um empresário, cuja empresa teve um lucro expressivo em 2024, dizer que a economia vai mal. Ou um trabalhador, que está se dando ao luxo de mudar de emprego várias vezes no ano, por conta do aquecimento do mercado de trabalho, dizer que a economia está muito ruim. Assim como milhões de brasileiros, eles não percebem que o desempenho empresarial e a oferta de emprego só estão acontecendo porque o desempenho da economia é positivo.
Isso ocorre porque, no Brasil e no mundo, a realidade está sendo lida, apreendida e repercutida pelas lentes mentirosas das redes sociais. E de tal modo que as eleições de 2026 serão decididas neste campo de batalha.
AS TARIFAS DE TRUMP
O Brasil já colocou tarifas nas importações para proteger a indústria nacional. Com isso, os carros eram carroças, as telecomunicações um desastre, e os brasileiros pagavam mais caro por produtos de má qualidade. Os EUA não precisam disso, porque são líderes mundiais na área de tecnologia de ponta. Diretamente do século XIX, o economista David Ricardo diria: os EUA têm de exportar bens tecnológicos de alto valor agregado e importar commodities e outros bens de baixo valor agregado. Se impuserem tarifas, o custo de produção e a inflação vão aumentar com a reserva de mercado. Ou seja: ou Trump e sua equipe não sabem nada de economia ou estão prometendo dificuldade para colher facilidade.
TRUMP E O BRASIL
Pois é, essa história de taxar os produtos de todo mundo parece coisa de falastrão que quer se empoderar para negociar. O Brasil, por exemplo, tem déficit na balança comercial com os Estados Unidos, ou seja, compra mais deles do que vende. Não faz sentido colocar tarifas nos produtos brasileiros, a não ser para fazer reserva de mercado a produtos americanos, como aço, suco de laranja, carnes e outros. Mas a demanda por esses produtos é alta no mundo inteiro, e o Brasil pode encontrar outros mercados. Agora, o Brasil, que vai presidir os BRICS, terá, sim, de abandonar a ideia de dar um bypass no dólar nas transações no grupo, pois aí seria cutucar a onça com vara curta.