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NO MÊS DA VISIBILIDADE TRANS, OTORRINOLARINGOLOGISTA EXPLICA COMO É FEITA A TRANSIÇÃO DE VOZ PARA PESSOAS TRANS

João Paulo - 13/01/2025 13:43

A conexão entre a voz e a identidade de gênero é uma etapa significativa no processo de reconhecimento social para pessoas trans, que se identificam com gênero diferente daquele designado ao nascimento. Em janeiro, quando se comemora o Mês da Visibilidade Trans, a otorrinolaringologista especialista em laringologia, com foco em transição da voz, Érica Campos, reforça a importância do procedimento de readequação vocal para a autoestima e qualidade de vida de pessoas trans.

“A transição vocal é muito mais do que uma mudança na voz: envolve sonhos, expectativas e, muitas vezes, o medo do que os outros vão pensar; é algo que está diretamente ligado à socialização. É muito recorrente no consultório o relato de pessoas transgênero com disforia vocal, que evitam falar em público para não chamar atenção pelo timbre”, destaca Érica, que é referência em mudanças vocais para mulheres trans no Brasil e a primeira médica brasileira a integrar a International Association of TransVoice Surgeons (IATVS).

Érica explica que a cirurgia de “feminização da voz”, também conhecida como glotoplastia, é feita por dentro da boca, sem deixar cicatriz, e dura cerca de duas horas. Após o procedimento, a paciente deve permanecer de 7 a 10 dias em silêncio absoluto. “A voz só vai estar no formato definitivo depois de 6 a 8 meses, e nem sempre essa espera é fácil. Por isso, estar em equilíbrio e buscar acompanhamento especializado é fundamental para garantir um pós-operatório mais tranquilo e uma recuperação melhor”.

A adaptação vocal após a glotoplastia envolve um processo de reeducação com acompanhamento fonoaudiológico e psicológico, além de cuidados necessários para que a paciente compreenda novamente o funcionamento da musculatura da laringe e atinja uma voz confortável e natural. “Essa espera é sempre desafiadora para pacientes que buscam fazer a transição vocal, por isso, é importante que as expectativas estejam bem alinhadas desde o início”, reforça a otorrinolaringologista.

A cirurgiã destaca que a glotoplastia evoluiu ao longo do tempo e, diante do avanço tecnológico, como o uso de lasers e técnicas minimamente invasivas, pode ser realizada com maior segurança, precisão e resultados menos inflamatórios. Após a cirurgia, é necessário o acompanhamento médico regular, com laringoscopias, para monitorar o desenvolvimento da voz e alcançar os resultados desejados.

“A glotoplastia desempenha um papel fundamental no pertencimento durante o processo de transição de gênero, que envolve mudanças que afetam a saúde física e mental. Também atendo pacientes cis que sofrem com disforia vocal, ou seja, que se sentem intimidadas em falar em público devido à voz, seja pelo uso de anabolizantes ou outras questões. Já os homens trans costumam ficar satisfeitos com as mudanças proporcionadas pela terapia hormonal. Como a testosterona tem um papel virilizante na voz, o uso do hormônio, na maioria das vezes, é suficiente”, explica Érica.

Outro procedimento que pode ser realizado em conjunto com a glotoplastia é a condroplastia, cirurgia para redução do pomo de Adão. “A retirada do pomo de Adão é uma questão estética que não interfere na voz, mas que pode ser fundamental para construção de autoestima e para trazer um sentimento de pertencimento às mulheres trans”, explica Érica.

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