As exportações do setor agropecuário brasileiro têm crescido exponencialmente nos últimos anos, passando de algo como 120 bilhões de dólares em 2021 para cerca de 166 bilhões de dólares em 2023. Em 2024, e expectativa é que o valor de 2023 ou algo ligeiramente menor seja registrado, sendo que a ocorrência de uma leve queda de safra deve ter influenciado o desempenho neste ano. Esses montantes permitiram ao setor agrícola alcançar uma participação de aproximadamente 50% das exportações totais do país.
Cabe acrescentar que a safra 2024-2025 talvez possa viabilizar a liderança das vendas externas setoriais brasileiras em nível mundial, ultrapassando as exportações agrícolas dos EUA, hoje detentor dessa liderança. As previsões do Ministério da Agricultura do Brasil estimam um valor exportável de 180 bilhões de dólares para o nosso país, ante uma projeção de 169,5 bilhões de dólares para os EUA, em 2025. No ano passado, a vantagem norte-americana foi de apenas 8 bilhões de dólares (174 bilhões de dólares dos norte-americanos e 166 bilhões do Brasil).
A despeito dessa trajetória auspiciosa e promissora, as exportações agropecuárias do Brasil se caracterizam por um cenário de certa dependência das importações pela China e por uma certa concentração da pauta num universo relativamente limitado de produtos na China e nos demais destinos. Grãos , principalmente soja, e carnes têm dominado a pauta de produtos. Esse cenário está mudando nos últimos anos. A China detém uma parcela em torno de 35% das exportações do agro brasileiro. A União Europeia participa com 13 % dessas vendas externas e os EUA com cerca de 6% nos anos recentes. Um grupo composto de países Árabes e do Oriente Médio perfazem aproximadamente 36% das vendas, ou seja, este agrupamento, composto por Emirados árabes Unidos, Arábia Saudita, Irã, Indonésia, Coreia do Sul, Japão, Vietnã e outros países, têm tido uma participação equivalente a uma nova China, e isso é um fato a comemorar.
Essa concentração acima referida já foi percebida pelos últimos Ministros da Agricultura, ou seja, a Ministra Tereza Cristina e o Ministro Carlos Fávaro. O resultado é que novos acordos comerciais firmados pelo Brasil têm procurado ampliar os países destinatários de nossas vendas e esforços vêm sendo empreendidos para incluir outros produtos nas tratativas comerciais. No governo anterior , o Brasil já tinha conseguido autorização da China para exportar algumas frutas e o melão foi o primeiro produto escolhido, mas as portas foram abertas para a inclusão de outros itens nas futuras negociações comerciais. Recentemente, com a vinda do Presidente Xi Jinping ao Brasil, para a reunião do G-20, o governo conseguiu abertura para outros produtos, como sorgo, gergelim e uvas frescas. Nesse último caso, es exportações de uvas da Bahia e de Pernambuco terão exclusividade nas vendas para o mercado chinês.
Finalmente, em razão de fatores geopolíticos, de segurança alimentar, redução do ritmo de crescimento chinês,guerras comerciais, e a existência de países que produzem insumos estratégicos para o agro, como fertilizantes , dos quais o Brasil é importador, torna-se imperativo ao Brasil aprofundar essa estratégia de diversificação de destinos e produtos nas nossas exportações, estratégia essa que deve contemplar , tanto quanto possível, as vendas externas de “bens finais agropecuários”, ou seja , vender produtos de toda a cadeia produtiva. Quando estivermos exportando para a China e para a Arábia Saudita, devemos , por exemplo, temos de tentar negociar a venda de grãos para rações e carne de porco e de frango, respectivamente. Caso esses países optem no futuro pela produção desses bens finais , iremos continuar vendendo para eles os grãos componentes de rações e teremos de procurar outros mercados com o propósito de vender a produção de toda a cadeia, e assim por diante. Nesse contexto, a busca por diversificação de destinos e produtos é constante.
Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail: [email protected]