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ADARY OLIVEIRA – AS INCERTEZAS DE 2025

Redação - 23/12/2024 08:56

No mundo empresarial o planejamento tem como difícil tarefa vencer as incertezas e o ano de 2025 que se aproxima está cheio delas. A Reforma Tributária que está sendo implementada é a maior de todas. Só na Confederação das Indústrias (CNI) estão funcionando 20 Grupos de Trabalho (GTs) e uma Comissão de Assuntos Tributários e Fiscais (CATF) com participação de representantes de todas as Federações. Todos tentando descobrir o que vai acontecer com exatidão e procurando cooperar com o Poder Legislativo. Os sistemas econômicos são formados por vários subsistemas e elementos que funcionam interligados sob a regência de determinadas leis complexas, não triviais, e são levados entropicamente ao equilíbrio depois de decorrido muito tempo. Assim, quando se introduz uma modificação num dos elementos de um sistema em equilíbrio, deve-se tomar muito cuidado para não ser criada uma desarticulação danosa capaz de desequilibrar tudo. O certo é que não se costuma fazer uma reforma tributária que resulte numa diminuição de tributos, e isso preocupa a todos.

O ano de 2025 se inicia com uma desvalorização do Real difícil de ser controlada e de altas taxas de juros. Nem mesmo a intervenção do Banco Central, fazendo leilão de elevadas somas de Dólares de nossas reservas, tem acalmado o mercado. A indústria química e petroquímica, por exemplo, não tem sido estimulada a realizar mais pesquisas e a carência de inovações tem reduzido sua competitividade. As fábricas têm reduzidos níveis de operação e a elevação dos custos tem aberto espaço para os competidores internacionais levando ao aumento das importações de produtos e fechamento de fábricas. A elevação dos bons resultados com as exportações do agronegócio não tem sido suficiente para neutralizar os custos altos dos fertilizantes e demais insumos importados. Ao invés de estarmos aumentando a capacidade instalada com novos investimentos, estamos paralisando unidades produtivas existentes.

Outra incerteza é quanto ao controle da inflação. Quem já viveu os tempos de inflação descontrolada sabe bem o que é isso e o temor é um tormento. Um item que está sempre ameaçando o controle da inflação é o dos preços dos combustíveis. Estima-se que há um déficit na indústria de refino equivalente a 650 mil barris por dia (bpd) só em gasolina e óleo diesel. A importação desses combustíveis passa a determinar para o mercado um preço influenciado pela variação cambial e cotação internacional do petróleo. A elevação do preço dos combustíveis faz subir o frete dos materiais de consumo e das matérias primas. As flutuações do câmbio em muito dependem das guerras e da política de preços dos países produtores de petróleo, muitos deles envolvidos com elas.

O déficit da produção de combustíveis tem levado algumas empresas, conhecidas como formuladoras, por serem assim nomeadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a importarem nafta e formularem gasolina por adição de substâncias aromáticas. A nafta paga menos impostos do que a gasolina na importação e o fisco anda em atritos permanentes com os importadores de nafta, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas. Muita dessa nafta está sendo importada da Rússia e da Argentina e a deste país acrescenta um complicador pois lá nafta e gasolina têm a mesma designação, o que confunde a muitos.

O mundo político também se apresenta com muitas incertezas. As vizinhas eleições de 2026 começam a tomar conta do noticiário e a se misturar com ameaças de morte, supostos golpes de estado, suspensão de direitos políticos e faz com que a parcela de pessoas que se encarregam da produção de bens e serviços fiquem inseguras. Como fazer um bom planejamento estratégico das empresas, como realizar um bom programa de produção, como enfrentar um mundo cada vez mais competitivo diante de tanta assombração, de tanta ameaça à estabilidade e de um ambiente inseguro?

Com tudo isso fica muito difícil a realização de bons negócios. As transformações por que passa o mundo, notadamente com a troca das fontes geradoras de energia apontam para o Brasil uma excelente oportunidade de negócios e um forte elemento propulsor para sairmos da pobreza que há séculos nos domina. Poderíamos ao invés disso dedicar mais tempo a outras atividades como, por exemplo: produção de álcool automotivo usando técnicas de irrigação por gotejamento subterrâneo, hidrólise enzimática de resíduos orgânicos e fermentação da inulina contida no sisal; aumento da produção de óleos vegetais para fabricação de biodiesel e diesel verde; a geração de mais energia eólica e solar usando-as na produção de hidrogênio verde e amônia verde para exportação; e muitas outras oportunidades que certamente nos levariam ao desenvolvimento.

2025 está para ser considerado o ano campeão das incertezas.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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