quinta, 12 de dezembro de 2024
Euro 6.2814 Dólar 5.9976

ENCONTRO DISCUTE COLORISMO E AVANÇOS DE SALVADOR NO COMBATE À DISCRIMINAÇÃO RACIAL

VICTOR OLIVEIRA - 12/12/2024 17:18

Colorismo. Um tema ainda pouco discutido e difundido, mas que merece a atenção de toda sociedade. Buscando suprir essa lacuna, a Fundação Gregório de Mattos (FGM), em parceria com a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), promoveu na quarta-feira (10) o evento Multiálogo: colorismo e suas nuances. Com o Espaço Cultural da Barroquinha lotado, a atividade foi marcada pela presença de servidoras e servidores negros da Prefeitura de Salvador.

As discussões foram encabeçadas pela pesquisadora, escritora e ativista Carla Akotirene e pelo pesquisador, membro do Conselho Municipal de Comunidades Negras (CMCN), do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) e representante do CMPC na Comissão de Heteroidentificação da FGM, Saullo de Tasso. Os dois lançaram luz sobre a temática de forma didática, potente e aprofundada. A mediação ficou por conta de Oilda Rejane, advogada e comunicóloga, que é a coordenadora do PCRI na Prefeitura de Salvador e de Ações Transversais na Semur.

Carla lembra que o conceito de colorismo foi criado pela autora negra estadunidense Alice Walk, que definiu como o tratamento preconceituoso ou preferencial de pessoas da mesma raça baseado exclusivamente na cor da pele. A pesquisadora explica que o colorismo não pretende tirar a negritude de quem quer que seja, mas vai mostrar que o marcador da cor da pele vai ser usado para diferenciar as pessoas.

“O colorismo é quando você olha para a pessoa retinta (preta) e retira dela a condição de humanidade, dizendo que ela não é boa o suficiente para estar naquele cargo. Aí você coloca alguém que se parece mais, tem uma passabilidade maior, segundo o olhar branco”, conclui.

Com uma fala que objetivou o empoderamento das pessoas negras como estratégia de combate ao racismo, Tasso chamou atenção para a necessidade de se conhecer o passado, fortalecer as identidades e promover o sentimento de posse. “Isso é necessário para que a gente saia do lugar do letramento e chegue ao lugar da posse, para nos entendermos enquanto comunidade negra, de uma forma muito mais complexa, completa, no sentido de lutarmos de um jeito mais contundente contra o racismo”, pontua.

De acordo com o presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro, o evento promoveu um bate-papo repleto de trocas valiosas, mas sem deixar de celebrar a cultura negra e toda a sua riqueza, buscando promover a transformação por meio da arte e do diálogo. “Momentos como este reafirmam o papel da Fundação Gregório de Mattos em fomentar reflexões e mudanças que fortalecem nossa identidade cultural e nossa luta por igualdade”, defende.

Desde 2005, a Prefeitura de Salvador desenvolve o Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI), que tem o objetivo de capacitar gestores públicos para a promoção da igualdade racial e a formação de banco de dados com recorte racial nos diversos setores da administração pública municipal. As estratégias e iniciativas do Programa estão explicitadas no Plano Municipal do PCRI, que é referendado pelo Planejamento Estratégico da PMS e pelo Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa de Salvador (Lei n.º 9451/2019).

Esses documentos norteiam a política de reserva de vagas às pessoas pretas e pardas em concursos e seleções da PMS, incluindo os editais de fomento da FGM. Os dispositivos, estratégias e ações demonstram o compromisso da Prefeitura para a construção de uma sociedade mais igualitária e representativa, além de colocar Salvador como grande referência para o país no que diz respeito à política de combate ao racismo.

Servidor de carreira da Prefeitura, o subsecretário de Cultura e Turismo (Secult), Walter Júnior, rememora os desafios para a construção desse plano e destaca o lugar que hoje ocupa na estrutura administrativa. “No começo, era um espaço em que a gente compartilhava as nossas dores individuais, que eram também coletivas. Com o passar dos anos, o PCRI foi ganhando corpo, se institucionalizando, até se configurar como um planejamento estratégico e uma política pública que de fato ele é”, lembra.

Sob a coordenação da Semur, o PCRI é executado de maneira colaborativa por todos os órgãos municipais. A secretária da Reparação, Ivete Sacramento, destaca a atuação efetiva do programa no âmbito municipal e convocou as novas gerações a assumirem o compromisso pela manutenção e fortalecimento dessa política.

“É essa juventude negra que está aqui que vai dar continuidade aos nossos passos, para fazer com que sejamos cada vez mais uma prefeitura antirracista. Esse é um caminho sem volta, por isso eu tenho certeza que as ações afirmativas e as políticas públicas para a comunidade negra em Salvador serão cada vez mais fortalecidas”, afirma.

Durante o evento, a FGM lançou a Cartilha de Heteroidentificação, desenvolvida para orientar artistas e agentes culturais sobre a reserva de vagas para pessoas pretas e pardas nos editais de fomento da Fundação. Esse material foi elaborado em consonância com o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa e o Plano Municipal do PCRI, em parceria com a Semur.

A programação incluiu ainda apresentações culturais com Brunno de Jesus, que interpretou músicas do Ilê Aiyê em formato acústico e performance do bailarino Lukas DiJesus.

Foto: Ascom/FGM

Copyright © 2023 Bahia Economica - Todos os direitos reservados.