Um dos principais desafios do Novembro Azul, mês mundial de combate ao câncer de próstata, ainda é conscientizar a população masculina sobre a importância do autocuidado e da atenção à própria saúde. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a doença deve acometer 71.730 brasileiros em 2024. Na Bahia, a estimativa é de 6.510 novos casos, sendo 1.200 em Salvador, com 89 diagnósticos para cada 100 mil homens no estado que é o segundo em incidência da doença. O Rio de Janeiro lidera essa estatística com 93,84 casos na mesma proporção. Responsável, segundo o Ministério da Saúde, por 28,6% das mortes da população masculina acometida por algum tipo de neoplasia maligna, o câncer de próstata é o tipo mais comum de tumor em homens (sem considerar o câncer de pele não melanoma).
Além da alta incidência, o diagnóstico tardio é outro problema que agrava o cenário. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), cerca de 20% dos casos só são identificados em fase avançada. “A falta de informação, o preconceito e o machismo contribuem para os números da doença. O tumor tem cerca de 90% de chances de cura ao ser diagnosticado precocemente e, por isso, é fundamental a realização dos exames de rotina”, afirma o oncologista Rafael Batista, da Oncoclínicas Bahia.
A recomendação é que homens a partir dos 50 anos busquem um especialista para avaliação médica individualizada, o que inclui a realização do exame clínico (toque retal) e o teste de antígeno prostático específico (PSA), anualmente, para rastreamento da doença. Homens negros ou com histórico familiar devem realizar essa rotina a partir dos 45 anos.
Fatores de risco
Além da idade, antecedentes familiares, fatores genéticos hereditários, obesidade, sedentarismo, alimentação rica em gorduras, carboidratos e ultraprocessados, e exposição ocupacional a agentes químicos também são fatores de risco para o desenvolvimento desse tipo de câncer, que acomete, principalmente, homens com mais de 65 anos. “Por outro lado, a prática regular de atividade física, a manutenção do peso adequado e uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras, legumes e carnes magras são hábitos considerados protetivos”, destaca Rafael Batista.
Outra importante condição de risco é a etnia. Um estudo norte-americano de 2020, publicado no jornal científico Jama Network Open, comparou a eficácia do sistema de vigilância ativa (quando ao invés de tratar, apenas se observa o paciente) em homens com câncer de próstata de baixo risco. Num período de sete anos, a progressão da doença foi 11% maior entre os homens negros, em comparação com os brancos. Além da maior propensão, a doença costuma evoluir de forma mais agressiva entre os homens afrodescendentes.
Atenção aos sintomas
Em seu estágio inicial, o tumor de próstata evolui de forma assintomática e silenciosa, e, geralmente, só apresenta sinais quando já está em fase mais avançada. Os principais sintomas da doença podem ser semelhantes ao crescimento benigno da glândula, tendo como características, a dificuldade para urinar seguida de dor e/ou ardor, gotejamento prolongado no final, frequência urinária aumentada durante o dia ou à noite.
“É importante estar atento aos sinais e buscar ajuda especializada para avaliação quando algum sintoma se manifesta, mesmo que o paciente seja mais jovem e não apresente fatores de risco. Na maioria das vezes, um sintoma isolado não significa um câncer, mas qualquer sinal deve ser investigado”, explica o especialista da Oncoclínicas Bahia. “A vigilância ativa é fundamental para prevenção”, acrescenta.
Em fase mais avançada, pode ocorrer a presença de sangue no sêmen, dor óssea, impotência sexual, além de outros desconfortos decorrentes de quadros de metástases.
Tratamentos e vigilância ativa
O tratamento do câncer de próstata depende da idade do paciente, estadiamento da doença (localização, grau de extensão e o quanto o tumor pode estar afetando outros órgãos) e do seu potencial de agressividade. “A abordagem terapêutica adotada deve ser individualizada e o paciente deve ser esclarecido sobre os seus riscos e benefícios”, esclarece Rafael Batista.
Segundo o especialista, nem todos os casos requerem um tratamento oncológico imediato, que envolva procedimento cirúrgico, quimioterapia e radioterapia. Para tumores iniciais e com características de baixa agressividade, o acompanhamento vigilante com consultas e exames periódicos deve ser discutido com o paciente, uma vez que é possível poupá-lo de algumas toxicidades que o tratamento pode causar. “Nos outros casos de doença localizada, a cirurgia, a radioterapia associada ou não ao bloqueio hormonal e a braquiterapia (também conhecida como radioterapia interna) podem ser realizadas com boas taxas de resposta”, finaliza o especialista.
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