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NOVOS VEREADORES DEFENDEM AO MENOS 60 CAUSAS COMO PRINCIPAIS BANDEIRAS

João Paulo - 12/10/2024 07:58 - Atualizado 12/10/2024

Principal pauta da Câmara Municipal de Salvador, o exemplo da saúde ajuda a entender como funciona a distribuição de causas na Casa. O jornal Correio fez um estudo e mostrou quais as bandeiras principais, aquelas que eram apontadas pelos próprios vereadores ou candidatos em suas plataformas, em textos oficiais de apresentação ou aquelas com maior número de propostas listadas nos destaques de suas campanhas. Ao todo, foram 60 pautas identificadas – mais do que o número total de integrantes da Casa.

Isso foi possível porque há eleitos que listam duas, três e até quatro causas como suas principais bandeiras. Ainda assim, contudo, houve situações de vereadores em que não foi possível definir com segurança qual foi a principal bandeira defendida na campanha ou em seus anos anteriores de trabalho, no caso daqueles que foram reeleitos. Logo após saúde, vem a pauta do esporte, com cinco eleitos. O terceiro lugar do pódio é dividido entre a educação, o cristianismo/valores da família cristã e quatro vereadores que não tiveram uma pauta identificada como principal.

Não é possível afirmar, contudo, se adotar uma causa específica como seu principal foco de atuação pode atrair mais votos ou não. Essa é a avaliação da cientista política Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Uma vez eleitos, lembra ela, os vereadores devem atender todas as demandas e preferências da população, inclusive considerando a diversidade de temas. “Só que muitas vezes, enquanto candidato, eles são eleitos por determinadas bases focadas em temas. Tem aqueles ligados mais à igreja, tem alguns ligados a movimentos na área da saúde, na área da educação, então é uma estratégia enquanto candidato”, pondera.

Este ano, ao menos dois vereadores foram eleitos como defensores das pessoas autistas. Essa era uma pauta que, há duas décadas, não era tão falada. O número foi maior do que outras que já têm tido muito destaque nos últimos anos, como a defesa dos animais – que, por sua vez, só elegeu uma vereadora, a médica veterinária Marcelle Moraes (União). No entanto, para a professora Luciana, não é possível falar em pautas específicas que têm tendência a dar mais votos do que outras. Em um lugar com população negra maior, por exemplo, é possível que a bandeira do combate ao racismo seja mais lembrada do que em outros. Já em municípios da região Amazônica, muitos candidatos podem identificar que é importante abordar a temática ambiental.

“Tem a ver com a base eleitoral e temas que, claro, mesmo a pessoa tendo que atuar em tudo, vai se sentir mais pressionada, quando for eleita, a poder também dar uma resposta e satisfação para quem o elegeu. E aí a gente pode ver esses vereadores e vereadoras empenhados em aprovar projetos vinculados à temática ou pressionar o Executivo para que medidas sejam tomadas nessa direção”, avalia. Outras pautas passaram a aparecer de outras formas. Há 20 anos, também foram pastores eleitos para a Câmara Municipal, sem contar a ex-vereadora e ex-deputada federal Tia Eron. Bacharel em Direito, ela ficou mais conhecida inicialmente pelo trabalho social que desenvolvia na Igreja Universal do Reino de Deus, inclusive como professora na Escola Bíblica Dominical. Agora, em 2024, o número de pastores não mudou. No entanto, outros eleitos colocam os valores cristãos como importantes em sua legislatura ao apresentar-se pela religião. É o caso de nomes como o estreante Sandro Filho (PP) e de nomes já conhecidos de Salvador, como Alexandre Aleluia (PL) e Cézar Leite (PL).

Para a professora Luciana Santana, da Ufal, assim como ocorre no contexto nacional, há uma tendência de que pessoas que defendem valores religiosos cristãos consigam angariar uma base eleitoral forte na política local. Ver esse crescimento da autoafirmação de ser cristão não significa necessariamente que essa pauta ganhou mais importância, mas que ela tem ficado proporcional ao aumento de evangélicos no país. “A gente tem visto um aumento da população evangélica e a católica ainda é maior a população. Mas a gente vê também que os evangélicos estão num momento onde também tem polarização política. Essas questões ganham muita atenção no plano nacional, que acaba influenciando algumas pautas locais”, aponta.

As campanhas desses agora eleitos são bons caminhos para prever como será a atuação de cada um deles, porque é comum que exista uma coerência entre as duas coisas. Ainda assim, é difícil prever como será a nova legislatura. É mais fácil fazer uma análise da atual formação da CMS, segundo o cientista político Paulo Fábio Dantas, da Ufba. Para o professor, é natural imaginar que, em uma democracia, em que a permanência de vereadores na Câmara seja vinculada à competição, eles se orientem por temas que tenham apelo eleitoral. “Isso não pode ser visto como uma patologia, como um mal a ser resolvido. Saber que eles votam para temas com apelo eleitoral é uma coisa inerente à sua própria atividade”, afirma.

O que vai ser diferente de um para outro é a compreensão que um vereador pode ter sobre o modo como deve defender determinadas pautas e em que medida ele tem noção do quanto as decisões do colegiado importam para seu mandato. Proporcionalmente, a maioria dos soteropolitanos não teve seu vereador ou vereadora eleitos na CMS. Os 43 eleitos tiveram pouco mais de 515 mil votos – ou seja, 26% dos votos do 1,9 milhão de eleitores aptos em 2024. “Por isso, quanto um vereador limita sua atuação a um nicho com fragmentação temática, eu diria que dificilmente alguém se elegera só por isso, exceto se for um tema que tenha uma abrangência social muito importante”.

 

Crédito: Divulgação/CMS

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