Há alguns dias, o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (Bacen), ajustou as expectativas do mercado em relação à decisão desta semana, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá novamente para discutir a taxa básica de juros, a Selic. De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), diante de um cenário contraditório, a reunião exigirá uma decisão desafiadora.
O argumento a favor de manter a Selic no nível atual (10,5%) se baseia nos dados recentes de inflação, que indicam que os preços estão sob controle. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, divulgado pelo IBGE, apontou uma leve queda de 0,02%. Com isso, o IPCA acumula alta de 2,85% no ano e 4,24% em 12 meses, abaixo do teto da meta. Esse resultado é inferior ao registrado em agosto de 2023, quando o índice subiu 0,23%. A análise detalhada dos dados do mês passado mostra um comportamento positivo, com o grupo de alimentação e bebidas apresentando deflação de 0,44%, impulsionado pela queda de 0,73% no consumo em domicílio. Em contrapartida, a alimentação fora de casa subiu 0,33%.
O cenário internacional também favorece a manutenção da taxa. Há uma grande chance de o Federal Reserve (FED), banco central dos Estados Unidos, reduzir os juros na próxima reunião, o que poderia valorizar o real e reduzir o impacto inflacionário do câmbio. Além disso, a queda nos preços do petróleo tem colaborado para aliviar os índices brasileiros. No entanto, muitos agentes do mercado acreditam que a inflação só será contida dentro da meta de 3% estabelecida pelo Bacen se os juros forem elevados agora. Apesar da queda modesta do IPCA, o acumulado de 2024 está próximo desse limite.
Além disso, o setor de serviços cresceu 0,24% em agosto, o que, embora positivo, veio após um aumento de 0,75% no mês anterior. Essa volatilidade dificulta uma análise conclusiva sobre a desaceleração dos custos. Por essa razão, o Boletim Focus projeta que a Selic alcance 11,25% até o final deste ano, e 10,25% em 2025.
Outro fator que muitos analistas não estão considerando — mas que tem sido discutido nas reuniões do Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política da Federação — é o aquecimento da demanda interna. Esse aquecimento é impulsionado por uma queda acentuada no desemprego, que atingiu 6,8% no trimestre encerrado em julho, o menor nível desde 2012, e pelo aumento da renda real, que atingiu níveis históricos. Esses fatores também refletem no PIB, que cresceu 1,4% no segundo trimestre em comparação ao primeiro, e 3,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, superando as expectativas do mercado.
Diante desse cenário, o Bacen precisa decidir entre aguardar novos dados de inflação para confirmar a tendência de queda ou agir imediatamente para conter o potencial aquecimento da economia.
(FecomercioSP)
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil