O Ozempic, medicamento da farmacêutica Novo Nordisk, que possui como princípio ativo a substância Semaglutida, ficou conhecido pelos seus efeitos na perda de peso. Recentemente, foi levantada a hipótese de alguns artistas estarem usando a medicação, como Maira, da dupla sertaneja Maira e Maraisa, quando a cantora apareceu muito mais magra em suas redes sociais.
Após o burburinho que o uso dessa substância gerou nas redes sociais, o portal Bahia Econômica foi atrás de um especialista para falar sobre o caso. Em entrevista, o endocrinologista, Dr. Fábio Trujilho*, presidente da Federação Latino Americana de Obesidade (FLASO), conta que o Ozempic 1mg, inicialmente, é prescrito para pessoas com diabetes mellitus tipo 2.
“Apesar disso, a semaglutida tem sim um efeito de diminuir a ingesta de calorias, a ingesta de alimentos, através de mecanismos no centro da fome no hipotálamo, e geralmente leva a perda de peso”, revela.
Entretanto Fábio ressalta que a medicação é importante para o tratamento da obesidade, muito mais do que apenas o emagrecimento, que têm como viés o lado estético. Por isso ele explica que, nos últimos tempos, foi lançado um medicamento com o nome de Wegovy, também do laboratório Novo Nordisk, que possui a mesma substância do Ozempic, mas com uma dose maior de 2,4mg por semana.
“A obesidade é uma doença crônica que tem várias causas, ela tem um mecanismo complexo e ela é recidivante , ou seja, você parou o tratamento, ela volta. Nesse caso, seria mais recomendado o uso do Wegovy, deixando o Ozempic de 1 miligrama para as pessoas com diabetes mellitus que é a verdadeira indicação”, explica.
O presidente da FLASO ainda alertou para o uso da substância sem prescrição e acompanhamento médico. Segundo ele, o perigo da popularização da semaglutida está na desinformação a cerca de contraindicações, titulações e progressões medicamentosas.
“Geralmente os efeitos colaterais são mais relacionados à parte gástrica intestinal, sendo eles: náuseas, constipação ou então diarreia. Mas quando você faz uma progressão, ou seja, você vai ajustando a dose de forma progressiva, você minimiza bastante esses efeitos colaterais, como também seguir uma boa orientação sobre a alimentação também vai ter um impacto sobre isso. Existem poucas contraindicações para essa medicação, uma delas é o câncer de tireoide chamado medular, que é um tipo de câncer raro. Não é tão comum. Então, antes de usar uma medicação como essa, é importante passar por uma avaliação médica”, conta.
Outra mazela desse fato, segundo Fábio, é o foco no emagrecimento e não no tratamento “A pessoa pode usar uma, duas canetas e perder cinco, dez ou quinze quilos e engordar tudo novamente. A gente sabe que a obesidade é uma doença crônica e que não está relacionada à falta de vontade. Por isso é necessário o acompanhamento de um profissional de saúde para que você tenha não só a perda de peso, como a manutenção desse peso perdido”.
“Outro fator importante quando uma pessoa pensa em fazer um tratamento da obesidade para perder peso é deixar de ver na comida um inimigo. O que tem que mudar é a relação dela com a comida. Vamos diminuir um pouco a quantidade desses alimentos, vamos distribuir a qualidade desses alimentos. Tem gente que acha que quanto menos comer melhor. E aí fica em jejum durante grande parte do dia e muitas vezes se sente mal, tem tontura no final do dia, pode até desmaiar, outros tem dor no estômago, outros tem dor de cabeça”, completa.
Não obstante, Trujilho aponta que é possível fazer o uso seguro da Semaglutida para perda de peso. Ele esclarece que o medicamento é indicado em muitos casos e pode melhorar diversas condições.
“Quando a gente pensa apenas no emagrecimento, a gente esquece que por trás da obesidade está o diabetes, está a hipertensão, está a osteoartrite (Artrose), está a qualidade de vida, a mobilidade dessa pessoa. Então, se você faz esse acompanhamento com um médico que tem conhecimento e treinamento pra isso, você além de conseguir essa melhora do peso, irá alcançar um estilo de vida mais saudável. Então o uso desse medicamento, associado a uma mudança de estilo de vida saudável, que, além de alimentação e exercício, envolve dormir bem, um gerenciamento do estresse, pode contribuir não só para a perda de peso, como pra melhoraria de muitas outras doenças”, finaliza.
*Dr. Fábio Trujilho é médico Endocrinologista e Preceptor da Residência Médica do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia (CEDEBA); Presidente da Federação Latino Americana de Obesidade (FLASO); Vice- presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO); Diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia; e Membro do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Foto: Mario Tama/Getty Images