Com a saturação da BR-324 – a importante e praticamente única ligação de Salvador com o sistema viário nacional –, é indispensável que voltemos as vistas para a criação de uma nova alternativa rodoviária de acesso à Capital – uma cidade peninsular – independente da requalificação que venha a ser feita pela concessionária Via Bahia ou quem a suceder.
Os estudos realizados pela Conder, já na década de 1970, indicavam que a Bahia-Feira, na chegada a Salvador, deveria ter hoje um número de faixas de tráfego bem maior do que as três atuais, insuficientes para suportar o enorme volume de veículos, grande parte de cargas. Assim, a concessão malfeita – e até hoje não corrigida – das BR-324/BR-116, cobra da Bahia um alto preço, comprometendo seu desenvolvimento. Em qualquer hipótese, é preciso descongestionar a ligação Salvador-Feira de Santana.
Sendo a única alternativa existente, a Linha Verde (BA-099) é uma via litorânea e turística, não se prestando ao transporte de cargas. A extravagante ponte Salvador-Itaparica não se prestará a esta função, como demonstram as próprias projeções de tráfego que embasam a sua concessão. É indispensável, portanto, criar um outro corredor de acesso rodoviário a Salvador.
Esta possibilidade se viabiliza, agora, a partir da duplicação da BR-101 Norte, da divisa BA-SE até o entroncamento com a BR-324, já em Feira de Santana, finalmente concretizada.
A solução passa pela estruturação do corredor Alagoinhas-Salvador, não como solução emergencial, mas como uma nova ligação, definitiva e permanente, compatível com a necessidade de desenvolvimento da Bahia e da Região Metropolitana de Salvador, além de fortalecer a centralidade urbano-industrial de Alagoinhas, a principal cidade dos Tabuleiros Costeiros do Litoral Norte baiano.
No interior da Região Metropolitana, a criação desse novo corredor rodoviário será possível com a simples transposição do tráfego, da BA-093, em Dias D’Ávila, a partir do Complexo Petroquímico de Camaçari (Copec), para a Via Parafuso (BA-355) – já duplicada – alcançando a CIA-Aeroporto (BA-526) – também duplicada – para chegar a Salvador.
Isto implica apenas a duplicação do viaduto do cobre e de um pequeno trecho da BA-512, de somente 3,5km de extensão, interligando a BA-093 com a via Parafuso, ambas sob concessão da Bahia Norte. Foi o que apontou o recente Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal (PDDM) de Mata de São João, de que fui um dos coordenadores.
Atualmente utiliza-se a BA-093 até Simões Filho, sobrecarregando a Bahia-Feira, que segue gravemente congestionada até o Acesso Norte da Capital do Estado.
Fora da Região Metropolitana, será preciso requalificar e duplicar pequenos trechos de rodovias existentes, em um total de não mais que 68km, entre Alagoinhas e Dias D’Ávila, beneficiando as cidades de Catu, Pojuca, Mata de São João e Dias D’Ávila, que passarão a experimentar um novo ciclo de desenvolvimento.
Este novo corredor estará destinado a absorver o fluxo rodoviário oriundo do Nordeste do país, pela BR-101, e do interior do Estado, via BR-110 – Paulo Afonso-Alagoinhas, com destino a Salvador, reduzindo a distância atualmente percorrida.
Ao alcançar Salvador, o tráfego se dissipará em direção ao aeroporto internacional, a Lauro de Freitas, a Itapuã, ou ao centro da cidade, pela Av. Luís Viana Filho (Paralela), uma via expressa que penetra o tecido urbano com velocidade operacional de 80km/h.
Com isto, será desviado o fluxo dos milhares de veículos que a BA-093 descarrega diariamente na congestionada BR-324, à altura da cidade de Simões Filho, justamente onde se inicia o trecho mais sobrecarregado.
Com a implantação da segunda etapa da Via Metropolitana – da CIA-Aeroporto até a Av. 29 de Março – esta alternativa se tornará ainda mais atrativa, por contornar o bairro de São Cristóvão, área de maior crescimento populacional da cidade.
Por oportuno, anote-se que esta nova via de acesso rodoviário a Salvador de modo algum exclui a necessidade de uma ligação ferroviária para interligar Feira de Santana – o maior polo logístico do Nordeste brasileiro – ao sistema portuário da Baía de Todos os Santos, devendo atender a cargas e passageiros.
Assim, com uma pequena obra, abrem-se novas perspectivas de desenvolvimento para o Estado, para a Região Metropolitana de Salvador, para a cidade de Alagoinhas e para o subsistema urbano Catu-Pojuca-Mata de São João-Dias D’Ávila.
Matam-se vários coelhos com uma cajadada só!
Waldeck Ornélas, especialista em planejamento urbano-regional, é autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.