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PROUST, MARX E O INSTAGRAM – ARMANDO AVENA

Redação - 01/04/2024 09:21 - Atualizado 01/04/2024

Marcel Proust tinha treze anos quando lhe convidaram para participar do “jogo da verdade”. Nos salões da Belle Époque todos queriam desvendar-se e era chique responder àquele questionário de 29 perguntas sobre gostos pessoais ou intelectuais. Proust respondeu às perguntas ainda adolescente  e voltou a fazê-lo aos 20 anos. Não se sabe se foi pela excelência das respostas ou das perguntas, mas o fato é que o modelo apresentado ao autor de “Em Busca do Tempo Perdido” terminou conhecido em todo o mundo como o questionário de Proust.

No primeiro questionário Proust dizia que seu compositor favorito era Mozart, o pintor, Meissonier, e seu herói favorito na ficção aqueles que eram a expressão de um ideal, em vez de uma imitação do real.  Sua ocupação favorita? Ler, sonhar e escrever versos. Aos 20 anos, Proust já parece mais sábio,  Beethoven é seu compositor favorito, Da Vinci e Rembrandt são os pintores que ama,  Baudelaire é o seu poeta,  Berenice sua heroína e Hamlet  o seu herói. Sua ocupação favorita? Amar.

Karl Marx também respondeu ao questionário de Proust, que ainda não tinha esse epíteto. Seus poetas favoritos eram Shakespeare, Ésquilo e Goethe, sua heroína  Gretchen, o grande amor de Fausto, seu herói Spartacus e Kepler.  E sua ocupação favorita? Ler.

Mais tarde, um Marx galanteador dará as mesmas respostas num questionário que lhe aplica sua bela prima Nanette, mudando apenas uma resposta. Sua ocupação favorita? Contemplar Nanette. O questionário inquire sobre o lema favorito e o de Marx, que se adapta bem ao nosso tempo, era o mesmo em ambos os questionários: De omnibus dubitandum. Pois é, convém duvidar de tudo, especialmente desse tempo estranho em que, como na Belle Époque, todos continuam querendo  desvendar-se  e as redes sociais fazem as vezes do questionário de Proust.

O Instagram é o espelho da alma, diria um Cícero moderno se nossa época fosse capaz de produzir um. De minha parte fico com Margarida de Navarra, rainha e escritora, que dizia que “os homens mascaram seu demônio com o anjo mais belo que conseguem encontrar” seja no insta ou no questionário de Proust.

Publicado no livro ” Dia de Lavar a Roupa dos Mendigos”,  Armando Avena, Editora Casarão do Verbo.

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