A moda já pegou no Brasil. Nas redes sociais, não é raro ver famosos, como os atores Felipe Titto, Duda Nagle, Cauã Reymond e a modelo e apresentadora Mariana Goldfarb, imersos em uma banheira com água e muito gelo até o peito. No Tik Tok, a hashtag #icebath, ou banho de gelo, em português, tem mais de 100 mil citações.
As expressões faciais dos usuários vão da dor ao alívio, e quem já experimentou garante: o efeito congelante, após os primeiros dois minutos, traz bem-estar e relaxamento imediato. “Essa é a sétima vez que faço e todas elas são desafiadoras. É uma situação de desconforto intencional que traz benefícios: me sinto mais forte, energizada, pronta para dominar o mundo”, brinca a professora de ioga Esther Ktenas. Ela viveu a experiência mais recente na Rio Academia, instalada a céu aberto na Praia de Ipanema, que funciona até este domingo. “Mais do que os benefícios corporais, é algo que traz preparo emocional e autoconfiança.”
A prática, que agora furou a bolha do universo dos atletas de alto rendimento, é conhecida como crioterapia de corpo inteiro. De acordo com o ortopedista Marco Aurélio Silvério Neves, da Clínica Movité, em São Paulo, e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia (SOB), o procedimento é indicado após atividades físicas intensas para reduzir o processo inflamatório nos músculos e articulações e ajudar na recuperação muscular. “O frio estimula a vasoconstrição, seguida de vasodilatação, melhorando a circulação sanguínea. Há relatos de melhorias na qualidade do sono”, diz.
Entusiasta dos banhos quentes, a arquiteta Renata Zappellini nunca imaginou que um dia conseguiria entrar “numa fria”. Hoje, tem até uma banheira de gelo para chamar de sua, com vista para o mar. “Faço corridas longas, e experimentei depois de uma delas. Na primeira vez, pensei: ‘é impossível’. Mas, quando rolou, vi como a sensação do pós é maravilhosa”, elogia. Renata define a experiência como “um banho de cachoeira, porém mais gelado”. O segredo para ter sucesso? A resiliência mental. “Você tem que estar ali praticamente meditando. Depois, você sente uma energia potente e quer fazer mais”, define a arquiteta.
Praticante assídua de futevôlei, a advogada Luciana Guedes, de 32 anos, desafiou-se a enfrentar a banheira. Segundo especialistas, a temperatura ideal para fins terapêuticos seria de 10 a 15 graus. No entanto, ela pode ser menor. Na Rio Academia, gira em torno de 4 a 10 graus, com tempo máximo de uso de 11 minutos. “No começo, você quer desistir . A sensação é da pele queimando. Depois, senti um formigamento nas extremidades do corpo, a respiração fica mais acelerada”, conta Luciana, que computou quatro minutos na banheira.
Embora não existam estudos científicos que comprovem a eficácia do tratamento, a mudança brusca de temperatura libera a adrenalina e, consequentemente, a sensação de bem-estar, diz a médica do esporte do Hospital do Coração (HCor), de São Paulo, Cristina Milagre. “Quando há a ideia de que algo é benéfico, você incorpora isso do ponto de vista psicológico. Não há problema na prática, mas é preciso cuidado”, avisa. Seu colega, o cardiologista Elton Simionato, alerta para os riscos: “A exposição prolongada à água gelada pode causar estresse ao coração, lesões na pele, reações alérgicas e até hipotermia”. Quem tem doenças circulatórias, neuropatias periféricas ou problemas respiratórios precisa consultar um médico antes. “O ideal é que a pessoa não passe de 20 minutos submerso”, completa Elton.
Enfrentar temperaturas negativas não é exatamente uma novidade para atletas e amantes de esportes. O holandês Wim Hof, de 64 anos, conhecido como “The Iceman”, nos idos dos anos 2000, criou uma técnica que leva o seu nome para quem quer se aventurar em terrenos gelados. Ela combina práticas de respiração, ioga e meditação. Hof entrou para o Guiness Book ao ficar 1h52 imerso num cubo de vidro com gelo e competir uma meia maratona descalço na neve. O dinamarquês Anders Hofman, de 33 anos, tem sido comparado a Hof após realizar a versão gelada do ironman (prova que reúne ciclismo, natação e corrida), na Antártida. A façanha transformou-se no documentário “Iceman”, lançado no ano passado. O uso da banheira já é rotina na vida de Anders. “Ela é boa para o corpo e a mente. Você tem um boost de dopamina”, fala. Morando no Rio e acostumado ao frio intenso, ele tira de letra a atividade em terras cariocas. “Para os meus amigos é bem mais difícil”, brinca.
Foto: Hermes de Paula