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JOSÉ MACIEL DOS SANTOS FILHO  (1) – A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA PROTAGONIZADA PELA FAMÍLIA BORRÉ  NA CHAPADA DIAMANTINA

João Paulo - 26/02/2024 09:20 - Atualizado 26/02/2024

Reconhecer e valorizar o  trabalho vitorioso e de excelência de produtores rurais, famílias e empresários no agro baiano  (e em qualquer outro setor) é tarefa importante, oportuna e tem potencial inspirador para outros empreendedores  e para a ação governamental com vistas ao desenvolvimento do agronegócio em nosso Estado.

Nesse sentido, nas regiões Oeste , vale do São Francisco e Chapada Diamantina, dentre outras áreas, temos exemplos de experiências exitosas, dignas de registro e com indiscutível

repercussão para o desenvolvimento do agro e da economia baiana. No caso da Chapada Diamantina, um exemplo a ser destacado é o do grupo da Fazenda Progresso, em Mucugê, comandado pela família Borré, do Rio Grande do Sul.

Segundo informações relatadas há algum tempo por Ivo Borré, o membro mais conhecido da família em tela, infelizmente falecido em 2021, a família chegou à Chapada em 1984, tendo adquirido inicialmente cerca de 900  hectares. Atualmente, o grupo tem uma área superior a 20 mil hectares. As primeiras experiências envolveram o cultivo de soja e trigo, nos quais o grupo já tinha expertise com sua atuação nas terras gaúchas. Os resultados, contudo, não foram animadores por conta das chuvas insuficientes. A seguir. com a adoção de plantios irrigados e escolhas de outras culturas, a família começou a virar o jogo.

Após arrendar parte das terras a um grupo japonês para plantio de batata inglesa, findo o contrato de arrendamento, o Senhor  Ivo Borré aproveitou as sementes de batata que sobraram e iniciou o seu cultivo. Como a experiência deu certo, o grupo começou a expandirde forma meteórica a área cultivada ano a ano, e hoje já cultiva algo como 2 mil hectares, sendo Mucugê o segundo município maior produtor de batatas do país, só superado, em pequena margem, pelo município mineiro de Perdizes. A Fazenda Progresso consegue uma produtividade entre 45 a 50 toneladas por hectare de batata, número muito superior à media nacional, que é de 30 toneladas por hectare.

Aproveitando as boas condições climáticas e de altitude da Chapada Diamantina ( 1150 metros), com dias quentes e noites frias, o grupo fez uma segunda aposta, dessa vez  no café. A escolha foi certeira e cirúrgica. Desde o início, o foco consistiu na produção de cafés especiais, sendo 80 % da produção voltada para a  exportação para vários países, como Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, Itália e até para o Vaticano, sendo um café muito apreciado pelo Papa Francisco. É preciso reconhecer que o grupo conseguiu esse sucesso exportador, com sua marca já consagrada dos cafés Latitude 13. Diga-se de passagem que outros produtores de Mucugê, Ibicoara e Piatã têm também obtido e exportado cafés de excelente qualidade. No momento da obtenção da INDICAÇÃO Geográfica, o grupo  e a região alcançarão um patamar ainda maior no mercado mundial de cafés especiais. Atualmente, a Fazenda Progresso já oferta os produtos de sua marca no mercado interno, já tendo instalado lojas e pontos de venda em Salvador.

Mais recentemente, e tendo em vista as peculiaridades climáticas favoráveis já mencionadas, a Família Borré, após exaustivas pesquisas em parceria com a EMBRAPA, decidiu por  outro projetp ambicioso, o Projeto UVVA, visando a plantio de uvas para a produção de vinhos finos de qualidade. A ideia nasceu há mais de 10 anos e o grupo já tem ofertado os primeiros lotes de vinho, inclusive já tendo iniciado atividades de enoturismo, com programação regular de visitação para os apreciadores da bebida, que inclui hotelaria, gastronomia e cultura. O plano é construir um hotel estrelado na área da fazenda e implantar uma pista de pouso para receber aviões executivos e de maior porte para atrair turistas de outros Estados. O Projeto UVVA é comandado pela terceira geração , tendo à frente o CEO Fabiano Borré.

Além do espírito de pioneirismo e de protagonizar uma verdadeira revolução agrícola na Chapada Diamantina e gerar um grande número de postos de trabalho, a  família Borré participa de atividades sociais, inclusive com a operação de uma escola em parceria com a Prefeitura de Mucugê. Em reconhecimento a este trabalho de excelência da família, o Senhor Ivo Borré recebeu merecidamente o título de Cidadão  Baiano da Assembleia Legislativa da Bahia em 2017, numa iniciativa louvável de Deputado Estadual Eduardo Salles, ex-Secretário da Agricultura no Governo Wagner.

Para o futuro, que  desejamos seja breve, esperamos que o grupo possa quem sabe entrar e implantar projeto de cultivo de frutas vermelhas e outras culturas em ambiente protegido, cultivos para os quais a Chapada Diamantina tem indiscutível vocação.

Apesar da experiência com trigo e soja não ter dado certo nos anos 1980, acreditamos que o Governo baiano possar mobilizar a EMBRAPA para retomar as pesquisas com o trigo irrigado na Chapada, especialmente porque essa estatal já criou o chamado “trigo tropical”, com variedades adaptadas a algumas regiões baianas.   Quem sabe um dia a  família Borré e outros produtores locais possam um colocar a nossa Chapada no mapa da triticultura nacional, ajudando no esforço de autossuficiência do Brasil na produção desse cereal estratégico para a segurança alimentar de nossa população. Experiências exitosas, como essa da Família Borré, são bem-vindas e devem merecer o apoio e os aplausos dos baianos e do Governo da Bahia.

JOSÉ MACIEL DOS SANTOS FILHO  (1)

(1)Consultor Legislativo e doutor em Economia perla USP.  E-mail: [email protected]

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