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JOSÉ MACIEL – CRESCEM O CULTIVO E DEMANDA POR UVAS SEM SEMENTES

Victoria Isabel - 23/01/2024 09:32 - Atualizado 23/01/2024

Tivemos há pouco menos de um mês as festas da virada do ano. Muitos países adotam comemorações e hábitos peculiares para celebrar tal data. Shows de fogos de artifício e brinde com espumante e champagne são formas frequentes de celebração. Alguns países e pessoas preferem comer uma colherada de lentilhas exatamente quando o relógio indicar a troca de ano. Na Espanha, acredita-se que comer 12 uvas em 12 segundos no momento da virada traz sorte e bons presságios nos 12 meses do ano novo. Ninguém quer se engasgar numa hora dessas. Talvez por essa ou outra razão, o consumo de uvas sem sementes cresceu significativamente nos últimos dias de 2023, acarretando a disparada dos preços desse tipo de uva, que alcançaram patamares acima do equivalente a 30 reais o quilo no país ibérico. Segundo alguns analistas, a tendência vigora há alguns anos e não parece ser um modismo passageiro.

Esse movimento não está restrito aos espanhóis. Aqui no Brasil, já se observa um importante crescimento do consumo e da produção de uvas sem sementes, e as pesquisas não param por aí. Já é possível constatar uma oferta inicial de outras frutas sem sementes, como melancia e melão, bem como existem pesquisas iniciais e trabalhos experimentais com mamão e goiaba sem caroço. Trabalhos da EMBRAPA SEMIÁRIDO dão conta de um crescimento vertiginoso da produção de uvas sem sementes no vale do rio São Francisco, nos municípios de Petrolina, Juazeiro, Casa Nova, Curaçá e outros. As exportações da região para países europeus têm aumentado exponencialmente nos últimos 15 a 20 anos. Grandes importadores do continente em tela, como Inglaterra, reduziram consideravelmente as compras do produto com sementes e passaram a importar a uva sem sementes em proporções maiores que 90% de suas compras do produto brasileiro.

No caso da produção de uvas, as pesquisas para a produção sem sementes tiveram início nos anos 1990 e logo após o ano 2000, as primeiras variedades foram lançadas comercialmente, estando atualmente em testes quase 20 novas seleções em diversas partes do país, como o Rio Grande do Sul, norte do Paraná, norte de Minas GERAIS e vale do São Francisco, notadamente no eixo Juazeiro-Petrolina. Cultivo de embriões, melhoramento genético e hibridação entre variedades, mutações naturais e outros procedimentos têm sido adotados ou verificados n na obtenção dessa e de outras espécies sem sementes.

Segundo pesquisadores da EMBRAPA, as frutas sem sementes serão cada vez menos raras no Brasil. Nos EUA e em alguns países europeus, as melhorias nos processos de produção e a maior demanda nos supermercados estimularam os agricultores locais. É provável que essa tendência também venha a ocorrer no Brasil. Uma reportagem da Folha de São Paulo, de 26 de outubro de 2019, cita dados da CEAGESP em que o consumo no Brasil de uva sem semente deixou de ser uma moda dos hortifrutis gourmet e passou ou está passando a ser a forma predominante de consumo no Brasil. E as frutas ofertadas pela Bahia e Pernambuco estão dominando as vendas durante todas as épocas do ano, desbancando as uvas com sementes importadas, especialmente do Chile e da Argentina.

Diante desses movimentos dos mercados, cabe aos governos da Bahia e das demais regiões apoiarem mais pesquisas com essa e outras espécies de frutas e estimular a expansão das áreas cultivadas com o produto sem semente.

Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail:
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