Salvador tem obra por toda a parte e isso é bom, afinal a ampliação da infraestrutura beneficia a população e melhora sua qualidade de vida. Mas os administradores públicos precisam cuidar para que essas obras não desfigurem ou enfeiem a bela cidade da Bahia. A Salvador das avenidas de vale, dos jardins de Burle Max, das árvores frondosas está desaparecendo, dando lugar a uma cidade de concreto, acinzentada, rígida, com pilares de cimento e aço por toda a parte.
Recentemente, o urbanista e confrade Paulo Ormindo escreveu um artigo em A Tarde com o título “ O progresso é concreto”, lembrando que esse era o slogan de uma usina de concreto, mas que se transformou no lema dos administradores públicos. No artigo, diz que as construtoras tornaram Salvador a cidade mais “viadutizada” do planeta.
Pois é! As belas avenidas de vale de Salvador foram atravessadas por gigantescos viadutos, destituídas de sua beleza original por enormes facas de concreto, que poluem a paisagem e cortam ao meio os prédios e as edificações. E agora eles estão banhados de luz, pois, à noite, os horríveis viadutos ficam iluminados, destacando o concreto que se torna verde, azul e rosa. Na cidade da Bahia, a iluminação cênica, cujo objetivo é destacar as obras de arte, as praças e os lugares históricos, ilumina a dureza do concreto. E o pior é que são viadutos estreitos, cheios de curvas, que surgem repentinamente no meio das avenidas e não tem acostamento, por isso são sujeitos a engarrafamentos recorrentes.
Salvador virou palco de uma arquitetura hostil que tem como característica a derrubada de árvores, a supressão dos jardins, a construção de horríveis estações de metrô e BRT e o avanço dos grandes espigões que vem manchando o frontispício da cidade. E está perdendo suas áreas verdes, abarrotada por prédios gigantescos, que pululam, sem planejamento, em bairros como Piatã, Horto Florestal, Caminho das Árvores e outros e que avançam pelas praias, plantando espigões no Buracão e querendo chegar a Bahia Marina.
Nada contra a atividade imobiliária, nem a verticalização de parte da cidade, mas tudo contra a falta de planejamento urbano e a construção de gigantes de concreto, de altura entre 150 e 200 metros, em qualquer lugar e sem estruturas de apoio, como os que estão sendo aprovados pelos órgãos públicos.
Paris não tem viadutos, nem espigões, mas abriga enormes edifícios em La Défense, o bairro financeiro, construído com todo o planejamento necessário e de tal maneira que compõe um belo eixo que começa no Louvre, passa pelos Champs-Élysées, até chegar à área ocidental da cidade onde está localizado. A arquitetura, a engenharia e os administradores públicos são capazes de projetar e construir – com arte, planejamento e beleza –, prédios e infraestrutura. Mas isso parece estar faltando na cidade da Bahia.
Publicado no jornal A Tarde em 01/12/2023
Foto: Arisson Marinho