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ARMANDO AVENA: O BALANÇO DO 1º SEMESTRE E OS DESAFIOS DO SEGUNDO

Redação - 27/07/2023 09:00 - Atualizado 27/07/2023

Em fevereiro deste ano, estive em uma reunião em São Paulo e encontrei o empresariado em polvorosa. Todos especulavam sobre os riscos de um governo de esquerda, intervencionista, que eliminaria o teto de gastos e passaria a gastar como se não houvesse amanhã. Haddad, já nomeado, não era do ramo e as falas de Lula do tipo, “gasto em saúde e educação é investimento “ e “a Eletrobras deve ser reestatizada”  indicavam que  o fim do mundo estava próximo.

Mas “o diabo é o diabo não porque é sábio, mas porque é velho”, por isso, brandindo minha experiência e a condução da política econômica nos governos de Lula, discordei. Haddad era um negociador nato, Lula um político pragmático e, em se tratando de economia, seu lema sempre foi: Tra il dire e il fare c’è di mezzo il mare . Ou seja, entre o dizer e o fazer … o mar e é esse mar que separa a retórica do presidente – cujo objetivo é agradar a militância – da realidade.

 Não deu outra, passados seis meses de governo, Fernando Haddad tornou-se o queridinho da Av. Faria Lima e a economia voa em céu de brigadeiro. O governo não se rendeu à gastança, Haddad se mostrou mais austero do que se previa e sua capacidade de negociação resultou na aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária na Câmara de Deputados.

 Os indicadores econômicos do 1º semestre mostram que a safra recorde e a taxa de juros nas alturas derrubaram a inflação que, medida pelo IPCA, registrou deflação em junho e caiu para 3,19% no ano, cada vez mais próxima ao centro da meta de inflação do Banco Central. O dólar caiu 10% frente ao real nos últimos seis meses, para os atuais R$ 4,75, a menor taxa desde abril de 2022 e a bolsa de valores registrou uma alta de 15% entre abril e junho e atingiu 122 mil pontos. Já o Produto Interno Bruto (PIB) do 1º trimestre de 2023 cresceu  4% comparado ao 1º semestre de 2022. Esse crescimento deve-se fundamentalmente a agropecuária brasileira e a safra recorde de grãos, mas deve-se também a manutenção dos níveis de consumo, já que o mercado de trabalho continua gerando emprego e são maiores as transferências de renda via Bolsa Família. E para completar o cenário, a agência internacional de classificação de risco Standard & Poor’s elevou o grau de investimento do Brasil de “estável” para “positivo” e, nesta quarta-feira, a agência  Fitch fez o mesmo.

 O cenário é muito bom, mas há desafios para o 2º semestre. O maior deles é a redução dos juros que já começam a impactar o crescimento do PIB. O IBC- Br, que é uma prévia do PIB, já indicou uma queda de 2% em maio e os juros precisam cair para não travar o crescimento. Será preciso também, aprovar a reforma tributária e o arcabouço fiscal no Senado e dar início a reforma tributária da renda.  Além disso, será necessário ter base política no Congresso para aprovar medidas para garantir o déficit zero em 2024 e medidas provisórias como o Desenrola e a própria lei orçamentária. Esse é o cenário e, de acordo com todos os indicadores,  demonstram que, em se tratando de economia, o governo voa em céu de brigadeiro.

                 SALVADOR: TURISMO INTERNACIONAL

 O aeroporto de Salvador registrou uma a movimentação de 135,7 mil passageiros internacionais (embarque e desembarque) no 1º semestre  de 2023, representando um incremento de 83% em relação ao mesmo período do ano anterior. O número mostra o potencial de Salvador na recepção de turistas estrangeiros, mas ainda é menor do que na pré-pandemia quando chegaram 212 mil passageiros (2019). Com isso, o aeroporto de Salvador consolida-se como principal portão de entrada de turistas estrangeiros na Região Nordeste, com cerca de 65 mil chegando na cidade no 1º semestre de 2023. Detalhe: 52% vêm de Portugal, 22% da Argentina e 20% da Espanha. Os números são da Anac.

                                           POLO DE AUTOPEÇAS

A Stellantis, montadora que reuniu Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën, e que tem fábrica em Pernambuco, pretende montar um polo de autopeças no Nordeste. Para isso pretende se articular com a BYD, que terá fábrica de carros elétricos em Camaçari. O presidente da Stellantis, Antonio Filosa, disse ao Valor Econômico que a empresa já começou a dar passos em direção à Bahia e negocia com um ex-fornecedor da Ford, que já iniciou a venda de componentes em pequenos volumes. Quando foi inaugurada, a  Stellantis tinha  sete fornecedores em Pernambuco e agora tem 38. Filosa percebeu que precisará de fornecedores locais, quando os subsídios à indústria automobilística do Nordeste forem retirados.

Publicado no jornal A Tarde em 27/07/2023

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