Nos próximos dias, o governo federal vai lançar o Plano Safra 2023/2024 com um volume recorde de recursos. O valor total previsto vai ficar em torno de R$ 430 bilhões, um volume de recursos 26% maior que o plano anterior lançado por Bolsonaro. É verdade que o setor queria mais, algo como R$ 470 bilhões, mas frente às dificuldades orçamentárias é um valor expressivo. Só para custeio da safra, por exemplo, estão previstos cerca de R$ 100 bilhões para o segmento empresarial, quase 35% a mais que o plano anterior.
Politicamente, no entanto, fica uma incógnita: como vai se posicionar o agronegócio, que tem se colocado em grande parte contra o governo Lula, frente a esse aceno do presidente? E como vai se posicionar o atual presidente da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o baiano João Martins, que nunca escondeu seu apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro?
João Martins não compareceu a Bahia Farm Show que teve a presença do presidente Lula e tem se manifestado pouco em relação ao governo Lula. A última manifestação foi uma crítica ao presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Jorge Viana, sobre desmatamento no Brasil durante missão oficial na China. João Martins, afirmou que viu com “preocupação” o posicionamento de Viana durante seminário em Pequim, onde ele “relacionou problemas ambientais com a produção agropecuária nacional”.
De lá para cá, Martins tem aparecido pouco, mas há grande expectativa no agronegócio quanto à sua presença ou não no lançamento do Plano Safra. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é a mais importante associação de apoio ao agronegócio no Brasil e reúne federações de todos os Estados e a ausência do seu presidente no principal evento da relação governo/agro será um nítida demonstração de que lideranças importantes do agronegócio estão dispostas a se manter contrárias ao governo não importa o caminho que ele seguir.
João Martins assumiu a confederação após o mandato de Kátia Abreu, que é muito próxima a Lula e foi ministra da Agricultura no segundo governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Martins fez campanha ostensiva a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive discursando na presença do ex-presidente sem poupar adjetivos de todo tipo contra o atual ocupante do cargo. Mas isso faz parte da política, afinal Geraldo Alckmin também fez o mesmo e hoje ocupa a vice-presidência da República. O que é raro é uma instituição com o poder e a capilaridade da CNA manter-se na oposição ao governo. Por isso, a presença ou ausência do presidente da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil no lançamento do Plano Safra vai ser um bom indicativo das relações entre o agronegócio e o presidente Lula nos próximos anos. ( EP- 26/06/2023)