Na semana do São João, a mais importante festa nordestina, o presidente Lula vai para a Europa, mais especificamente para a França e Alemanha. É no mínimo curioso que o presidente vá para o exterior no momento em que se realiza a mais importante festa do Nordeste, a região do país que lhe deu mais votos e lhe garantiu a vitória na apertada eleição para a presidência da República. E até agora nenhum sinal na agenda de que o presidente irá prestigiar o santo casamenteiro no Nordeste.
Lula não está tão bem nas pesquisas eleitorais e a última, realizada pela Datafolha e divulgada no último sábado (17), mostra que, com 5 meses de governo, ele tem a aprovação de apenas 37% e uma reprovação consolidada de quase 30 %. A melhor colocação de Lula foi no Nordeste, região que lhe dá 47% de aprovação, percentual bem menor do que o registrado nas eleições de 2022.
Ora, não são números bons e o presidente deveria aproveitar uma festa dessa magnitude para visitar aquela região que é seu mais importante reduto eleitoral. Mas Lula não parece preocupado com isso e seus olhos estão voltados para o exterior. Em cinco meses de governo, Lula ficou mais tempo no exterior do que viajando pelo Brasil e não esconde de ninguém seu interesse pelas questões de política externa.
O que estaria movendo o presidente Lula ao trocar o São João do Nordeste por um encontro com o Papa e com Emmanuel Macron, o presidente da França? O que estaria movendo o presidente Lula a destinar parte expressiva de sua agenda às questões internacionais?
A resposta a essa questão já é conhecida nos corredores do Palácio do Planalto. Lula quer ganhar o Prêmio Nobel da Paz. A ofensiva diplomática de Lula teria objetivos importantes para o Brasil, como o acordo comercial com a União Europeia, a entrada do país no Conselho de Segurança da ONU e os recursos para o meio-ambiente, mas teria também a vontade do presidente de ser agraciado com o Prêmio Nobel da Paz.
É isso que levou Lula a se colocar como um líder equidistante na discussão sobre a guerra da Ucrânia, se propondo a mediar um acordo de paz. A tentativa foi malograda pelo presidente da Ucrânia que não digeriu bem a postura ïsentona” do presidente brasileiro. E aí também houve uma falha da diplomacia, afinal, até hoje não se sabe qual a proposta brasileira para alcançar a paz.
Ao que tudo indica não será a paz na Ucrânia a senha para o prêmio Nobel da Paz e parece que o ex-embaixador do Brasil em Washington e ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda, Rubens Ricupero, tem razão ao dizer que é na pauta ambiental que o Brasil tem a chance de liderar uma política externa bem sucedida. “Goste ou não, para o mundo o Brasil é a Amazônia”. “Eu até acho, pessoalmente que, se ele ( o presidente) quer ter o Nobel da Paz, ele devia apostar tudo no meio ambiente”, disse Ricupero.
Pois é, é um bom conselho. Mas o conselho mais importante é lembrar que as eleições municipais estão batendo na porta, que mais de 33% da população acha o governo apenas regular, e que o presidente deveria dar muito mais atenção do que está dando aos problemas de casa.
Em outras palavras, entre o São João e o Nobel da Paz, Lula deveria ter preferido dançar o forró. (EP – 19/06/2023)